História, histórias e curiosidades
No dia vinte e dois de Maio de 1949, no Cais da Pontinha, embarcaram no navio Lima, trinta e sete camacheiros com destino a Lisboa, de onde seguiriam posteriormente para Madrid. Tratava-se do recém formado Grupo Folclórico da Casa do Povo da Camacha, composto por doze pares de bailarinos, doze “ tocadores instrumentistas”[i] e o presidente da Assembleia Geral da Casa do Povo, Alfredo Ferreira de Nóbrega Júnior. Acompanhava-os o Sócio Protector da Casa do Povo[ii] e ensaiador do grupo, Carlos Maria dos Santos. Desafiados por António Alberto Monteiro, delegado do Instituto Nacional do Trabalho e director da acção da FNAT, este grupo de “humildes camponeses de um conselho rural” foram representar a Madeira e o país, no Festival Internacional de Danças e Canções de Madrid, que decorreu no “monumental parque El Retiro” no centro da referida cidade, entre três e seis de Junho. Segundo o testemunho do correspondente do Diário de Notícias “milhares de pessoas aclamaram os camachenses, com expontaneidade e entusiamo que se destacava dos aplausos dispensados aos outros grupos”. E assim foi que, com o Baile Corrido, Camacheiras e Baile Pesado, mais com a ajuda do Brinquinho que despertou muita curiosidade, o Grupo Folclórico da Casa do Povo da Camacha arrecadou um, brilhante, segundo lugar na categoria de grupos mistos, num concurso que, ao todo, reuniu oitenta e oito grupos de dezasseis nacionalidades. Findo o festival o grupo ainda se demorou, com actuações diversas quer em Espanha quer em Lisboa, só regressando à Madeira no dia vinte e cinco de Junho, a bordo no navio Carvalho Araújo. A recebê-los no Porto encontravam-se diversas entidades que com eles seguiram para o Palácio de S. Lourenço, tendo aí sido recebidos pelo Chefe do Distrito, Brigadeiro Rui da Cunha Menezes. Após cumprirem essas obrigações oficiais, foi o regresso a casa onde “ à passagem das viaturas pelos sítios do Vale Paraíso e dos Casais de Além, foram dadas salvas de morteiros, anunciando a chegada os camachenses, atingindo porém delírio quando as viaturas surgiram na Achada da Camacha, em cujo local, numerosas pessoas aguardavam, com entusiasmo, o regresso dos seus representantes no Concurso Internacional de Madrid. Numerosas crianças das escolas oficiais e católicas da Camacha, entoaram cânticos de saudação. Mastros com bandeiras, flores e um dístico «Parabéns»—guarneciam alguns pontos mais centrais da freguesia. Na Casa do Povo realizou-se uma sessão solene de boas vindas, aguardando os recém chegados as pessoas mais gradas da freguesia”. Depois dos discursos dirigiram-se para a Capela de S. José, onde decorreu uma cerimónia de bênção ao Santíssimo em Acção de Graças, pelo regresso e pelo sucesso alcançado. O dia terminou com um «finíssimo e abundante copo de água» nas instalações da Casa do Povo, preparado pelas senhoras e meninas da localidade. Fernanda Nóbrega @ CAMACHA - camacha (weebly.com)
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Cinquenta e seis , são os anos que espaçam a inauguração da Torre do Relógio (vide neste blogue Acto benemérito) e a criação do estabelecimento comercial, em volta da mesma, conhecido como Café Relógio. Mandada construir por Michael Grabham, nos limites da sua quinta na Camacha, a fim de proporcionar à população um relógio público que regulasse o passar dos seus dias, ficou um pouco ignorada quando o, já idoso, doutor a vendeu a Frederico Rodrigues, entre a segunda e terceira décadas do século XX[i]. Frederico Rodrigues, um empresário que, aqui neste blogue, já por diversas vezes tem sido referido, graças aos múltiplos empreendimentos a que se dedicou e que em muito contribuíram para o desenvolvimento da localidade[ii], durante cerca de trinta anos centrou a sua atenção noutros imoveis de sua propriedade, deixando a Torre, ali isolada, no extremo norte da quinta, onde explorava o Hotel da Camacha. Até que no mês de Maio de 1951 apresentou na Câmara Municipal de Santa Cruz um “requerimento para restaurar e construir um pavilhão no prédio onde se encontra instalado o relógio, no sítio da Igreja, freguesia da Camacha”[iii]. Deferido o pedido, terá sido iniciado o processo e em Agosto de 1952 deu entrada nos serviços da Câmara um pedido de vistoria de um estabelecimento de pastelaria e casa de chá, o qual foi aprovado no mês de Outubro do mesmo ano. Em 1964 a exploração do espaço foi arrendada a uma sociedade, recém formada, entre Cesário de Freitas, barman, natural da Camacha e Guilherme Silva, empregado de mesa, natural do Funchal. Em 1970 Cesário de Freitas vendeu a sua parte a Álvaro Nóbrega, na época chefe de contabilidade do Hotel Reid’s, Fernando Nóbrega, funcionário no Aeroporto de Santa Catarina[iv] e Heliodoro Câmara, empresário de obra de vimes, todos naturais da Camacha, tendo então a sociedade sido restruturada em quatro quotas, em consonância com o aumento de capital. Em 1973 adquiriram o espaço aos descendentes de Frederico Rodrigues, o qual desenvolveram e transformaram naquela que, para além do relevante papel na comunidade, durante cerca de quarenta anos, foi a imagem de marca da Camacha. Fernanda Nóbrega @ CAMACHA - camacha (weebly.com) [i] Ainda não foi localizado qualquer documento que confirme a data exacta. [ii] Central eléctrica , o Hotel do sr. Frederico , o carro nº740 , o primeiro camião [iii] Actas das sessões da Câmara Municipal de Santa Cruz- ABM [iv] Hoje Aeroporto da Madeira Internacional Cristiano Ronaldo Decorria o ano de 1858 quando Ana de Freitas, de sessenta e seis anos, sentindo-se doente, decidiu vender algumas propriedades que tinha em comum com o seu, ausente, marido José Vieira. Ana de Freitas nasceu em Gaula e veio morar para a Camacha aos vinte e um anos, quando casou com José Gouveia dos Salgados, em 1813. Em 1836 achando-se viúva, aos quarenta e quatro anos, casou com José Vieira, um mancebo do sítio da Igreja, de olho azul e cabelos loiros, com vinte e sete anos de idade. Viviam-se tempos conturbados no país e com a idade de trinta e três anos, José Vieira, com os seus 152cm de altura, foi mobilizado para assentar praça no Regimento de Infantaria nº 11, tendo seguido para o Reino, a fim de cumprir o serviço militar. Por lá ficou, na qualidade de soldado, até 1859, porém em Dezembro 1860, não tinha ainda regressado à Camacha, o que levou a que a sua mulher, dando-se por viúva, vendesse a terceira das suas propriedades. Aos vinte e sete dias do mês de Agosto de 1867 morreu Ana de Freitas , com a idade de setenta e cinco anos e é de Novembro desse ano que se tem notícia do regresso de João Vieira, num documento notarial no qual ratifica os três negócios feitos, na sua ausência, pela falecida mulher. João Vieira voltou a casar, em Janeiro de 1868, com Joana de Jesus, ele com a idade de cinquenta e nove anos, ela com cinquenta, e sete e daqui se lhe perde o rasto, podendo se presumir que o casal terá saído da Camacha. Esta é apenas uma breve história de um dos quarenta e cinco[i] jovens camacheiros que ao longo do século XIX e início do século XX foram chamados a servir o Reino, integrados em diversas unidades de Infantaria. Os primeiros foram integrados no Regimento de Infantaria nº 11 em 1837 e daí até 1907, para além de diferentes números de Regimento de Infantaria, foram integrados na Guarda Municipal de Lisboa, Regimento de Granadeiros da Rainha, Batalhão de Caçadores, Praça de S. Julião da Barra, Companhia de Correcção. O conjunto desta informação revela ainda algumas notas curiosas que nos permite criar uma imagem dos jovens de então. Com um altura média de 1,52m o grupo teve nos seus extremos Joaquim de Ornelas, um jovem recruta de dezanove anos com 1,42m, em 1839 e Francisco Ferreira, 18 anos, 1,72m, em 1855. Maioritariamente tinham olhos “pardos”[ii] e cabelos castanhos, ao que se juntavam um ou dois olhos azuis, esverdeados ou pretos e cabelos loiros e pretos. Todos eles foram apenas soldados, apesar de diversos terem prosseguido carreira militar durante alguns anos. Enquanto profissão foram na sua maioria lavradores, constando da lista também um sapateiro, dois criados de servir e um barbeiro. Fernanda Nóbrega @ CAMACHA - camacha (weebly.com) [i] Arquivo Histórico Militar [ii] Descrição física patente nos Livros Mestres - Arquivo Histórico Militar ABM – Notariais, Paroquiais imagem em - https://purl.pt/11767/3/e-805-a_JPG/e-805-a_JPG_24-C-R0150/e-805-a_0001_1_p24-C-R0150.jpg A primeira imagem que se associa, quando se fala da Casa do Povo da Camacha, é de esta ser um organismo vocacionado para a cultura. E efectivamente é a qualidade e notoriedade dos diversos grupos que a integram que em muito contribuem para a sua notabilidade. No entanto um olhar mais atendo revela-nos outras áreas de intervenção. Criada em 25 de Maio de 1937, ao longo da sua história assumiu por diversas vezes um papel mais interventivo na administração local e no desenvolvimento da freguesia e da sua população. Foi o que sucedeu no início da década de quarenta, quando esta instituição chamou a si a responsabilidade de reparar, melhorar ou mesmo construir de novo, a rede de caminhos que ligavam os diversos pontos da freguesia. Recorrendo aos seus próprios fundos e contando com o apoio financeiro da Comissão de Socorros Distrital e da Câmara Municipal de Santa Cruz, no mês de Junho de 1940 deu início às obras de melhoramento de velhos caminhos, alargando-os e calcetando. O primeiro a beneficiar desses trabalhos foi o Caminho da Eira Salgada, que no início de Agosto contava já com uma extensão de 400m. Seguiram-se os caminhos da Ribeirinha, Rochão, Achadinha, Casais de Além e Nogueira. Deste pacote de obras fizeram parte, também, arranjos no campo da Achada e calcetamento dos caminhos em seu redor, trabalhos estes comparticipados pelos comerciantes locais e alguns particulares. Para a execução destas obras a Casa do Povo recorreu a vinte e cinco associados que estavam desempregados e que, segundo um artigo inserido no Diário da Madeira, foram renumerados “ pelo bom sistema de assistência, vales de milho para serem distribuídos em troca de trabalho”. Fernanda Nóbrega @ CAMACHA - camacha (weebly.com) ABM- Colecção de Jornais, Diário da Madeira
Era assim que a chamávamos, “sininhos azuis”, desconhecendo por completo se, porventura, teria outro nome. Mas, deste modo, assim nos entendíamos. A caminho de casa, vindas da escola dos Salgados, e para evitar a passagem por dentro da quinta Câmara, o caminho mais usual obrigava a subida da vereda até o caminho do hotel e por ali abaixo direitinhas à zona mais a oeste da Ribeirinha. O pequeno grupo de meninas com 7, 8, 9 ou 10 anos, caminhava de regresso a casa depois da manhã passada na escola. Nuns dias em alvoroço, noutros em silêncio; nuns dias em passo apressado na ânsia de chegar a casa, noutros a passo mais lento devido ao calor e cansaço… mas sempre parávamos ao pé de “sininhos azuis”. Não sei de quem teria sido a ideia, mas era crença generalizada entre o grupo que se espetássemos um raminho na terra do talude que ladeava o caminho e desejássemos qualquer coisa, o desejo seria realizado se o raminho pegasse. Todos os dias havia desejos. Não sei os das outras…mas os meus eram muito simples, anseios de quem tinha sete anos e andava na 2ª classe: conseguir fazer o próximo ditado sem nenhum erro; acertar nas contas todas; não ser obrigada a comer o lanche; conseguir saltar à corda a cruzar e descruzar os braços pelo menos cem vezes seguidas. Era um facto que os desejos iam acontecendo. Mas também era um facto que as estacas espetadas no solo murchavam, secavam e … nenhuma delas pegava. Todo o talude estava repleto de raminhos castanhos, com folhas mirradas e enroladas. Raminhos secos dos quais já ninguém se lembrava quais eram os seus. Sem nome comum em português, e muito menos na Madeira, vim a saber muito mais tarde que o nome que lhe dávamos corresponde, a grosso modo, ao nome vulgar usado na Austrália, a sua terra nativa: bluebell creeper (trepadeira de campainhas[1] azuis). Esta “bluebell creeper” (denominada cientificamente de Billardiera heterophylla [2]) é uma planta nativa do sudoeste da Austrália e muito comum nos eucaliptais abertos. Sendo uma espécie interessante do ponto de vista ornamental e de ampla tolerância ecológica, foi levada para outras regiões da Austrália para ser usada em jardinagem. Daí se escapou, naturalizou-se e é hoje considerada uma prioridade no controlo de plantas invasoras nos ecossistemas nativos dos estados mais orientais do continente australiano. Na europa, só é encontrada espontaneamente em Portugal, onde foi assinalada pela primeira vez como naturalizada em 1987, na serra de Sintra, pelo botânico português A. Pinto da Silva. Embora só muito recentemente esta planta tenha sido publicada como naturalizada na Madeira (2014), a sua presença já havia sido reportada como planta ornamental, no início do século XX, pelo Dr. Michael Grabham, o proprietário inglês da Quinta Grabham, na Camacha. No seu livro sobre as plantas encontradas nos jardins da Madeira, publicado em 1926, descreve a planta[3], na altura sob a designação científica de Sollya salicifolia, fazendo referência à sua ocorrência bastante comum na Camacha. Embora referisse a utilização entusiástica pelos jardineiros locais, a planta só é encontrada nas proximidades da casa onde a família Grabham viveu até por volta de 1910 e que mais tarde foi convertida em hotel-pensão (ver entrada O hotel do sr. Frederico). Trata-se de um arbusto pequeno que emite alguns ramos escandentes que se enrolam à volta de outras plantas e a permitem trepar. Com folhas verdes brilhantes, floresce a partir de maio, em inflorescências terminais com 5 a 8 flores, de cor azul intenso e que se tornam mais claras à medida que envelhecem. Sendo uma espécie capaz de se adaptar a diferentes condições ambientais, com elevada fecundidade e capacidade de regenerar após incêndio permitiu que, sem cuidados de cultivo, a planta tenha permanecido no jardim há muito abandonado e escapado para as áreas envolventes. Apesar de pouco dispersa, encontram-se algumas populações subespontâneas em áreas envolventes relativamente distantes do jardim onde terá sido introduzida. A espécie mostra, deste modo, um comportamento invasor que poderá representar uma ameaça para a flora nativa da Madeira. Ainda que a espécie se encontre atualmente restrita a uma área sem grande interesse de conservação, poderá servir de plataforma para áreas de vegetação nativa à semelhança do que aconteceu no passado com o incenseiro ou árvore-do-incenso (Pittosporum undulatum), uma espécie da mesma família. Esta árvore ornamental teria sido introduzida nos jardins das quintas da costa sul no último quartel do século XIX e é hoje uma das grandes ameaças para a floresta Laurissilva que ocorre na face norte da ilha da Madeira. Daí que a “sininhos azuis” poderá ser um motivo de preocupação e neste caso uma prioridade para intervenção precoce no controlo de potenciais espécies invasoras. E, apesar da frustração com que por vezes olhávamos os raminhos secos num vislumbre de um desejo evanescente, ainda bem que as nossas estacas não pegaram. Caso contrário, teríamos levado à disseminação desta espécie, ainda para mais longe do jardim onde foi introduzida e cultivada no princípio do século XX, acelerando a sua dispersão. Um agradecimento especial ao Professor Doutor Miguel Menezes de Sequeira, com quem foi levada a cabo a investigação sobre esta planta como planta naturalizada na Madeira e pela cedência da fotografia de detalhe das flores. Aida Nóbrega Pupo @ CAMACHA - camacha (weebly.com) Bibliografia BACELAR, J. J. D., CORREIA, A. I. D., ESCUDEIRO, A. S. C., PINTO-DA-SILVA, A. R., & RODRIGUES, C. 1987. Novidades da Flora Sintrana. Boletim da Sociedade Broteriana 2(60):147-162. BACHMANN, M., & JOHNSON, R. 2010. Distribution, Outbreak Observations and Implications for Management of Bluebell Creeper 'Billardiera heterophylla' (Lindl.) L.Cayzer and Crisp, in the Green Triangle Region of South-Eastern Australia. The Victorian Naturalist 127(4):137-145. CAYZER, L. W., CRISP, M. D., & TELFORD, I. R. H. 2004. Cladistic analysis and revision of Billardiera (Pittosporaceae). Australian Systematic Botany 17:83-125. MABBERLY, D. J. 2008. Mabberley's Plant-book. (third ed.), University of Washington Botanic Gardens, Seatle, 1040 pp. PUPO-CORREIA, A. & MENEZES DE SEQUEIRA, M. 2014 First record of Billardiera heterophylla (Lindl.) L. Cayzer & Crisp (Pittosporaceae) as naturalised plant in Madeira Island (Portugal). Silva Lusitana, nº Especial, 27-34. VIEIRA, R. 2002. Flora da Madeira. Plantas Vasculares Naturalizadas do Arquipélago da Madeira. Boletim do Museu Municipal do Funchal (História Natural), Sup. 8:5-281. [1] Embora bell em inglês também signifique sino, em português às flores com esta forma é atribuída geralmente a designação de campainha. [2] Billardiera heterophylla (Lindl.) L. Cayzer & Crisp (Pittosporacea) [3] “A dainty little climber, bearing deep blue flowers, occurs sparingly in Funchal, but fairly common at Camacha” (uma trepadeira pequena e delicada, com flores de um azul intenso, que ocorre de modo esparso no Funchal mas é bastante comum na Camacha). Apesar da estrada Camacha Funchal, via Vale Paraíso e Palheiro Ferreiro, ter ficado concluída somente em 1936, em Maio de 1930 estava já funcional uma versão que desembocava no Lombo da Quinta e que permitia a circulação de automóveis, nomeadamente as pequenas camionetes de vinte e poucos lugares que por esses anos circulavam na Madeira. A Camacha recuperava assim o seu estatuto de destino por excelência para os passeios ao campo, não só das famílias como das diferentes associações, como neste caso, o Ateneu Comercial do Funchal que decidiu dar início às suas Festas de Verão, promovendo uma excursão à Camacha. No dia 27 de Julho, pelas sete horas da manhã, duzentos e cinquenta e uma pessoas, distribuídas por catorze camionetes, saíram em direcção a esta localidade para passar um aprazível Domingo. Na Achada, para recebê-las, estava uma comissão composta por “gentis meninas veraneantes, o director do « Foot Ball Esperança Club» e grupo de escoteiros com os seus galhardetes, soltando todos calorosos vivas ao Ateneu Comercial”[i]. Após o pequeno-almoço, servido no Hotel da Camacha, foi dado início ao programa de actividades desportivas na Achada, com um “renhido match entre a primeira team do «Esperança Club» e o «Ateneu Comercial»” o qual ficou empatado a um golo. Seguiram-se as corridas: cem metros, de gatas, senhoras, pé-coxinho, ovo na colher, três pés, pensamentos, pequenos, miúdos e sacos “ que mereceram o maior interesse e vivos aplausos da assistência” Findos os jogos os excursionistas regressaram ao Hotel onde almoçaram e permaneceram até as cinco da tarde, hora em que regressaram ao Funchal. Fernanda Nóbrega @ CAMACHA - camacha (weebly.com) [i] Diário da Madeira – ABM. Colecção de Jornais
Eram 13 horas e 20 minutos do dia 30 de Abril de 1946, quanto o Cardeal D. Teodósio Clemente de Gouveia chegou ao Ribeiro Serrão, vindo do Santo da Serra. Natural da freguesia S. Jorge, tinha aí passado alguns dias, eventualmente para festejar entre os seus, o título cardinalício[i], com que fora agraciado em Fevereiro desse ano. No regresso ao Funchal optou por visitar as duas freguesias serranas, tendo sido recebido por uma salva de morteiros, no ponto de partilha, à entrada para a Camacha, onde o aguardavam muitos populares. Deu-lhe as boas-vindas Alfredo Ferreira de Nóbrega Júnior, presidente da Casa do Povo da Camacha e Maria Augusta de Sousa, professora de ensino primário no mesmo organismo, saudou-o em nome das crianças camacheiras. A comitiva seguiu para a Igreja Matriz, acompanhada por salvas de foguetes, num percurso decorado com arcos de flores e colgaduras. Foi recebido pelas entidades locais e demais população no adro, o qual se encontrava atapetado de flores a toda a volta. Áurea Gonçalves leu uma mensagem em nome da Acção Católica e Virgínia de Sousa ofereceu-lhe um ramo de gerberas. Dentro do templo D. Teodósio, após uma breve oração, dirigiu-se aos presentes referindo a sua ligação afectiva a esta freguesia, a qual visitara com alguma frequência e onde realizou o seu primeiro sermão fora do Funchal. Aludiu ainda ao ilustre filho da terra, Aires de Ornelas, e a Maria de Nóbrega, uma das suas melhores colaboradoras na obra missionária como Irmã Justina, Superiora de Angoche e mais tarde do Hospital da Beira, também ela filha da terra. Após abençoar os presentes dirigiu-se a pé até a Capela de S. José, onde orou e visitou as instalações das Irmãs da Congregação de Nossa Senhora das Vitórias. Foi aí também que António Martins, presidente da JAC lhe ofereceu uma biografia de Abel Ferreira de Nóbrega. Finda a visita o Cardeal e respectiva comitiva atravessaram a Achada, acompanhados por vivas da população, muitas flores e intenso repicar dos sinos da Igreja e Torre do Relógio[ii] partindo logo de seguida com destino ao Funchal. Fernanda Nóbrega @ CAMACHA - camacha (weebly.com) [i] Teodósio Clemente de Gouveia – Wikipédia, a enciclopédia livre (wikipedia.org)
[ii] Na época existia apenas a torre ABM – Colecção de Jornais- Diário de Notícias Em 14 de Outubro de 1968 a Junta Geral do Distrito Autónomo do Funchal adquiriu um prédio rústico e urbano no sítio do Vale Paraíso, onde chamam Achada da Macela, pelo valor de 2.750.000$00 escudos. Essa aquisição foi realizada a fim de satisfazer um pedido da Comissão Distrital de Assistência que desde 1966 procurava um espaço para implantar a sua obra social de protecção a crianças desfavorecidas. Recebido o espaço e tendo em conta que o prédio urbano se encontrava em mau estado, a Comissão contratou o arquitecto Aleixo Terra da Mota para fazer o projecto e o engenheiro Aires Pestana para gerir as obras. O equipamento foi efectuado sob orientação da Direcção de Educação Especial da Madeira e a decoração foi da responsabilidade da enfermeira Machado Faria. A adequação teve um custo de 3 milhões de escudos e três anos e meio mais tarde estava pronta a receber as trintas crianças, do sexo masculino, com que iniciou o projecto. No final do mês de Julho de 1972, cerca de cinco meses após a abertura, o Diário de Notícias visitou o local e é da sua notícia que se retira a descrição: “Para o recreio físico das crianças existem um campo de futebol e um rinque de patinagem. Presentemente procede-se ao arrelvamento do largo espaço para montagem de um parque destinado aos mais pequenos. Num sentido de ocupação, base do ensino de recuperação, deparam-se aos visitantes as pequenas hortas e os ajardinados. Em 3 palheiros está arrecadado o produto do cultivo feito pelas crianças… os imóveis modelarmente adaptados resplandecem na simplicidade e na frescura: a capela onde os meninos assistem à missa, os refeitórios— com televisão[i]— os dormitórios amplos, arejados, impecáveis da limpeza, as instalações sanitárias, as salas de convívio, onde se atende às idades dos internados, as salas de aula, onde seminaristas da Congregação da Rainha dos Apóstolos ministram o ensino, a cozinha a rouparia, as salas para iniciação de oficina—sapataria, carpintaria, barbearia e padaria— etc.” Com capacidade para receber sessenta crianças, assim nasceu na Madeira a Casa do Gaiato, mais conhecida por Quinta do Padre Américo, instalada na Quinta do Vale Paraíso, Camacha. Fernanda Nóbrega @ CAMACHA - camacha (weebly.com) [i] De notar que a Madeira só passou a ter emissões regulares de TV em Agosto de 1972 e por esta data eram muito poucas as famílias que possuíam televisor.
Agostinho de Ornelas e Vasconcelos Esmeraldo Rolim de Moura e Teive[i] não nasceu na Camacha, contudo adoptou-a como sua, ao herdar as propriedades da família da sua mãe, as quais ampliou e transformou na conhecida Quinta das Almas. Se bem que as suas opções profissionais e de vida, o tenham levado a residir fora da Madeira, o tempo que aqui passava foi suficiente para que fosse apelidado de “politico da Camacha”[ii], aquando do seu desempenho como Deputado da Nação nas Cortes da Monarquia Constitucional Portuguesa. Em 1894 a Câmara de Santa Cruz honrou-o designado uma estrada na Camacha com o seu nome, pelos benefícios que o mesmo aportara ao Conselho[iii]. Nesta localidade, especificamente sabemos que contribuiu financeiramente para a aquisição do terreno da Achada, para uso comum, e ofereceu água da sua nascente para uso da população, quer pondo ao dispor uma fonte na sua quinta, como fornecendo água ao fontenário público construído em 1897 [iv]. Aqui nasceram e foram baptizados dois dos seus cinco filhos: Aires e Isabel. Aires, o segundo Conselheiro, nasceu na Quinta das Almas, às oito da noite do dia 5 de Março de 1876 e dez dias depois foi baptizado na Igreja Matriz, tendo por padrinhos o seu tio homónimo, o bispo D. Aires de Ornelas e Vasconcelos e por madrinha a Condessa da Ponte, D. Maria Teresa de Sousa Botelho Mourão e Vasconcelos. Assim como o seu pai, as suas opções de vida levaram-no para fora da ilha e, não obstante ter sido feito par do Reino por direito hereditário, distinguiu-se nas diversas áreas a que se dedicou[v]. Manteve sempre uma forte ligação à sua terra natal, dando continuidade às benesses oferecidas à comunidade pelo seu pai, e foi aqui que se refugiou para recuperar, após a sua prisão na sequência do golpe monárquico em que se envolveu em 1919. Terá sido nessa altura que mais laços criou na comunidade local. Para além da pedra, ofereceu a sua credibilidade ao projecto do jovem Abel Ferreira de Nóbrega da construção da Capela de S. José[vi] e são diversas as referências, em anos distintos, de almoços festivos na Quinta das Almas, oferecidos às crianças no dia da sua primeira comunhão. Fernanda Nóbrega @ CAMACHA - camacha (weebly.com) [i] Agostinho de Ornelas e Vasconcelos Esmeraldo Rolim de Moura e Teive – Wikipédia, a enciclopédia livre (wikipedia.org)
[ii] ABM – Colecção de Jornais – Imprensa Livre [iii] Vide Estrada Agostinho d'Ornelas [iv] Vide O marco fontenário e Achada é dos Camacheiros [v] Aires de Ornelas – Wikipédia, a enciclopédia livre (wikipedia.org) [vi] Vide Capela de S. José Nem todos terão obtido essa classificação nos seus exames, no entanto todos, os aqui referidos, ficaram para a história ao serem objecto de notícia na imprensa regional. Já aqui se abordou o Ensino público- os primórdios, onde se relata a implementação do ensino escolar oficial na Camacha e a parca oferta nesse sentido, até o início do século vinte. Não é de surpreender, portanto, que as crianças camacheiras tivessem de se deslocar a fora da freguesia, para realizarem o exame de 1º grau. No final de Julho de 1905, Ângelo Simão de Vasconcelos Gomes e Carlos Alberto de Jesus foram recebidos em festa, no regresso da prova que realizaram no Caniço: “Reproduziram-se idênticas manifestações na freguesia da Camacha[i], à chegada ali de duas creanças, do sexo masculino, naturaes d’aquella localidade, que tinham obtido a classificação de distinctos, acompanhadas do seu professor sr. Manoel d'Antas Almeida, dos pais dos examinados e do sr. dr. Figueira, que exerce clinica na referida freguesia[ii].” Por meados da segunda década os exames do 1º grau, que englobava os três primeiros anos de escolaridade, realizavam-se já nas escolas da Camacha. Em Julho de 1916, o Diário de Notícias informava que “Da escola official da freguezia da Camacha, habilmente regida pela professora sr.ª D. Maria Mercês Lopes Faria, fizeram exame do 1.°grau, ficando approvadas, as seguintes alumnas: Maria Isabel da Camara e Maria d' Andrade, com a classificação de bom, e Delfina Rodrigues e Carolina de Goes, com a de sufficiente.” No mesmo jornal, dias depois, António Rodrigues e Januário de Goes, pais das duas alunas com menor classificação, fizeram publicar um agradecimento à professora pelo bom trabalho realizado com as suas filhas. Nesse mesmo ano, no início do mês de Agosto, Alfredo Maria Rodrigues e Abel Ferreira de Nóbrega realizaram o exame de 2º grau sendo que este era realizado no Funchal, muito provavelmente no Liceu Central, porém, do seu resultado não temos notícia. Podemos presumir que terá sido positivo dado que o primeiro prosseguiu estudos e formou-se em medicina e o segundo era estudante liceal aquando do seu falecimento[iii]. Em 1917, da escola oficial da mesma professora temos informação dos resultados do 1º grau: Isabel de Nóbrega, bom; Margarida de Freitas, suficiente e do seu ensino particular; José da Mota e António Teixeira ambos com suficiente. Em 1918 a notícia é da escola regida pelo professor Ângelo de Menezes Marques tendo os seus alunos obtido os seguintes resultados: José Fernandes Teixeira, óptimo; Frederico Rodrigues e Manuel Nóbrega Valente, bom e José Ferreira, José de Nóbrega e Joaquim Teixeira, suficiente. Vinte anos mais tarde, e sob orientação do professor Carlos Marinho Lopes, os bons alunos foram, no 1º grau: Severo Morais Gonçalves, dispensado da prova oral de aritmética; Abel Policarpo de Freitas, idem; José Vieira, idem; António Gregório Gonçalves, idem; José de Nóbrega, idem; Alfredo Manuel Jorge, idem. No 2º grau: João Gonçalves, distinto; Raul Fernandes, distinto; Aires Tibúrcio da Mota, distinto; Isabel Cipriano Marinho Lopes, distinto; José Gonçalves Lucas, aprovado; José Fernandes, aprovado; Álvaro de Freitas, aprovado; David Teodoro Rodrigues, aprovado; e Jaime Quintal aprovado. Fernanda Nóbrega @ CAMACHA - camacha (weebly.com) [i] No Caniço foram lançados foguetes e pode se presumir que na Camacha terá sucedido o mesmo.
[ii] [ii] ABM Colecção de Jornais, Diário de Notícias [iii] Vide Capela de S. José * FUSCIANO, Eutíquio (pseudónimo de Alfredo Ferreira Nóbrega Júnior)- Junta de Freguesia da Camacha Concluída a ermida, Francisco Gonçalves Salgado tratou de pedir ao Bispo, D. Gabriel de Almeida, licença para nela poderem ser celebrados os diversos rituais católicos, tendo obtido o alvará em Junho de 1674[i]. Contudo isso não foi suficiente para que os moradores do lugar da Camacha pudessem assistir aos ofícios com a regularidade que, com certeza, desejavam, uma vez que não existia nas proximidades um padre que os pudesse celebrar. Para ultrapassar esse obstáculo Francisco Salgado ofereceu a sua ermida ao rei de então, D. Afonso VI, permitindo assim que o bispo D. Frei António Telles da Silva avançasse com o pedido de criação de freguesia, o qual foi concedido por D. Pedro, príncipe regente, em Dezembro de 1676. Não se tratou de um processo célere, dado que só em Outubro de 1679 foi designado o padre Manuel de Sá e Sousa mas nada indica que terá efectivamente ocupado este lugar, sendo Gaspar Pinto Correia o nome que figura nos primeiros registos em 1680, ano da conclusão da delimitação da freguesia. Oficialmente designado em 1686, o padre Gaspar terá sido o legítimo “possuidor” da pequena igreja até 1738, ano em que foi designado Manuel Simão de Gouveia, que por aqui ficou até a sua promoção em 1745. Para o substituir foi nomeado António Gomes Germano, logo substituído em 1747 por Manuel João Barreto. Em 1753 chegou Francisco Xavier da Cunha, ao qual se seguiu José Telo de Menezes. Apesar do crescimento da freguesia, quase um século depois o “mantimento” dos sucessivos padres permanecia inalterado nos dez mil reis anuais, um moio e trinta alqueires de trigo e pipa e meia de vinho, estipulados por D. Pedro para o primeiro padre designado, o que levou Telo de Menezes, em 1768, a dirigir uma petição ao Rei D. José, no sentido de ser autorizado a “pedir esmola” fora da freguesia, por forma a suprir as necessidades da sua pequena igreja. Foi, também, durante o seu exercício que começaram os sepultamentos no adro, por falta de espaço dentro da pequena igreja. Em Junho de 1770 o padre António Pestana Serrão foi nomeado para esta freguesia, sendo nessa altura que se iniciou o processo para a edificação da nova igreja, que diversos dos seus antecessores haviam pretendido. Neste período e durante um breve espaço de tempo (Março a Novembro de 1774) a paróquia contou com o vice vigário Miguel Caetano Moniz e Vilhena. O padre Francisco de Sousa Xavier Correia assumiu a paróquia em Janeiro de 1782 e coube-lhe ver a nova igreja nascer. Por aqui ficou até o final da década, tendo lhe sucedido os padres[ii]: Leandro José da Fonseca, Vigário, 1788-1793; José Joaquim de Sousa, Vigário, 1793-1795; Manuel Teixeira Jardim, Vigário 1795-1800; Francisco Camacho, Vigário, 1801-1802; António de Araújo Jaques, Vigário, 1802-1803; João José de Freitas, Cura 1805-1819; António Joaquim Baptista, Vigário, 1802-1806; Inácio Cristóvão da Sousa, Cura, 1810; Manuel Teixeira Jardim, Vigário, 1795-1800; 1810-1828; Marcelino João da Silva, Cura, 1820- 1825; João Miguel de Freitas, Cura, 1826-1827; Manuel Teixeira Jardim, Vigário, 1827-1834; Paulo Joaquim Vieira, 1828-1829; Marcelino de Freitas e Vasconcelos, Vigário, 1834-36; Clemente de Ornelas, Cura, 1836; João de Abreu Macedo, Vigário, 1836; João António de Sousa Nunes, Vigário, 1838; Dionísio Bettencourt Pimenta, Vice Vigário, 1838-1846; João José da Trindade, 1841; Paulo Joaquim Vieira, Vigário da Camacha, 1846-1848; João Aleixo de Freitas, Vigário, 1848-1851. Em 1851 Cristiano Augusto Machado Pacheco obteve a sua primeira nomeação. Sucederam-lhe Manuel Romão Martins Pestana, Cura, 1852 e José Isidoro Gonçalves, Vigário, 1863-1866. Em 1866 o padre Cristiano regressou à localidade ficando por aqui até 1891. A ele se deve o aumento do passal da Igreja Paroquial, ao qual anexou um terreno em 1867. Seguiram-se Roque Caetano Rodrigues, Vigário, 1892; Carlos de Freitas, Cura, 1892-1896; Fernando Augusto da Silva, Vigário, 1892-1902; Manuel Filipe de Sousa, pároco, 1902-1907; João Baptista, pároco, 1908-1909; João Eduardo de Sousa, pároco, 1909-1911. Em 1912 chegou o padre João Augusto de Faria, que terá sido, talvez, aquele que mais contribuiu para o engrandecimento da freguesia, quer promovendo ou colaborando com diversas iniciativas[iii] quer enriquecendo o património local através das sucessivas obras que realizou na Igreja Paroquial, aumentando substancialmente o seu valor estético e funcional. Os seus sucessores serão, eventualmente, objecto de um futuro artigo. Fernanda Nóbrega @ CAMACHA - camacha (weebly.com) [i] Para informações mais detalhadas sobre este tema vide Calaméo - Da Ermida à Igreja De S Lourenço Da Camacha (calameo.com)
[ii] Informação recolhida na Base de dados dos registos paroquiais criada por de Álvaro Luís Correia de Nóbrega [iii] Vide A revolta dos Camacheiros , A torre da igreja , Capela de S. José , Festa da Flor , camacha - CAMACHA (weebly.com) , Capela do Santíssimo Sacramento , Primeiro chegaram os Ingleses e ao que tudo indica foram eles a descobrir a Camacha. A Camacha era desde há muito habitada e existia como freguesia, há uns bons cento e cinquenta anos, mas não passava de uma pobre aldeia perdida na serra, até que os britânicos descobriram a frescura dos seus Verões e a transformaram numa estação de veraneio apetecível, que durante muitos anos se impôs como local da moda. Foi pelos inícios da terceira década de 1800 que começaram a comprar terrenos, Thomas Harris terá sido o primeiro e logo o seguiram Bean, Gordon, Show e Gourlay. No decorrer das décadas seguintes a comunidade inglesa foi crescendo e às primeiras famílias foram se juntando as Taylor, Hollway, Veitch, Mason, Park, Ross, Penfold, Wallas, Bayman, Phels, Hinton, Grant, Leacock, Grabham, Gibs, Drury, Randall, Payne, Faber… Alguns construíram quintas, que foram passando de mão entre si, outros limitavam-se a arrendar pequenas cotages para a estação. Alexander James Donald d'Orsey aqui celebrava missa inglesa, Beatrice Winifred Randall nasceu na Quinta do Vale Paraíso e David Parker, Engenheiro Residente de Palghaut Madras Railway, foi um dos cidadãos ingleses que faleceram nesta localidade. A partir de meados do século, os madeirenses começaram, também, a apreciar a ideia de fugir à torreira funchalense. A se juntar às famílias Vasconcelos/Bettencourt da Câmara, Olival/ Ornelas de Vasconcelos, que aqui já possuíam as suas grandes propriedades, a par das dos britânicos, aos poucos foram surgindo outros de nacionalidade portuguesa, como Lobato Machado, Bianchi (mais tarde Visconde do Vale Paraíso), Padre Francisco Almada, Luiz Rocha Machado os quais no decorrer das últimas décadas do século foram adquirindo terrenos e algumas das quintas construídas pelos ingleses. Na imprensa da época encontram-se, recorrentemente, anúncios das diversas quintas a disponibilizar o seu usufruto para a “estação calmosa” e tornou-se usual os jornais informarem por onde andava a elite a vilegiaturar. Condessa da Ponte, Viscondes do Vale Paraíso, Visconde Bianchi, Governador Civil Manuel Saldanha da Gama, Condessa Torre Bella, foram visitantes habituais, a par com alguns dos ingleses que se mantinham fiéis. No dealbar do século vinte a sociedade começou a mudar a um ritmo mais acelerado, a evolução tecnológica proporcionou uma oferta de destinos mais apetecíveis que o pacato bucolismo camacheiro e aos poucos, quer os ingleses quer os ilustres, foram se deslocando para outras paragens, com as poucas excepções dos que aqui ainda possuíam propriedades e que de quando em quando as visitavam. Particularmente com a debandada inglesa, os camacheiros mais empreendedores aproveitaram a oportunidade para adquirir as suas excelentes propriedades, no entanto apenas um deles rentabilizou o seu investimento, por forma a fazer regressar os Verões camacheiros aos seus tempos áureos. No final da década de vinte, Frederico Rodrigues abriu o Hotel da Camacha e durante alguns anos esta localidade voltou a ver a sua população estival crescer, desta feita com nomes mais portugueses: Oliveira Abreu, Cabral do Nascimento, Castelo Branco Machado, Teixeira Rebelo, Ferreira Serafim, Abudarban da Câmara, Correia Neves, Martins Cardoso, Lomelino Pereira, Henriques de Freitas, Botelho Moniz, Fernandes, Camacho, Machado Santos… O status dos veraneantes sofreu também significativa alteração sendo mormente constituído por médicos, advogados, engenheiros, funcionários públicos e até uma professora de música. Fernanda Nóbrega @ CAMACHA - camacha (weebly.com) ABM Colecção de Jornais
ABM Notariais Estão-se a completar cinquenta anos sobre mais um momento no qual a Camacha mostrou ser maior que a sua singela condição serrana e rural, surpreendendo a conservadora sociedade madeirense de então. No final de Julho, o Diário de Notícias não resistiu a antecipar a novidade “A comunidade Cristã da Camacha, à frente da qual está o Rev. Pe. António Figueira Martinho, prepara algo de surpreendente para apresentar ao público madeirense no próximo dia 10 de Agosto… A criação de uma banda de música nada teria de especial… se não fora o facto de esta, que será composta por 26 elementos, integrar 6 senhoras. É, efectivamente, um pormenor inédito entre nós e o que só vem revelar a desenvoltura da mulher camachense… Anuncia-se também ineditismo no fardamento dos componentes da banda de modelo completamente diferente do estandardizado.”[i] Consequência ou não desta notícia, foi uma casa cheia que no dia 10 de Agosto de 1973 se concentrou para assistir aos diferentes actos associados ao nascimento oficial da Banda Paroquial de S. Lourenço. O programa teve início pelas 10h30 com a realização de uma missa na Igreja Matriz “intensamente participada pela assembleia, que cantou os diversos cânticos litúrgicos, acompanhada pela Banda que se encontrava perto do altar.”[ii] Finda a cerimónia religiosa, na qual foram benzidos o estandarte da banda e algumas palmas em ouro e prata dourada, a festa deslocou-se em romaria para o Largo da Achada, mais precisamente para o ringue de patinagem. Em último lugar chegou a Banda interpretando a sua marcha, composta pelo maestro José da Costa Miranda, tendo sido recebida por uma chuva de pétalas de flores, lançadas pelos jovens festeiros do ano, raparigas e rapazes nascidos em 1953. Seguiram-se o hastear da bandeira, o Hino da Banda (do mesmo maestro) e os discursos, do Governador do Distrito e do padre Martinho, tendo este último salientado o papel fundamental de Raúl Gomes Serrão na formação dos músicos, iniciada em 25 de Janeiro de 1971 e que perdurou até o mês anterior, quando por imperativos profissionais o mesmo teve de ser substituído pelo maestro José da Costa Miranda. Nesta ocasião foram ainda entregues “Palmas de Prata Dourada e ramos de estrelícias aos principais «obreiros» da banda e aos seus músicos… Os jovens festeiros, excelentemente trajados, transportaram, aos casais, a Palma de Prata (numa almofada de veludo azul) e as flores que depois eram entregues”. Para finalizar este acto, a Banda de S. Lourenço realizou um breve concerto seguido por uma actuação da Banda Municipal do Funchal. Os festejos continuaram até a meia-noite, após um almoço tardio na Quinta do Vale Paraíso e já pela noite um convívio musical no adro da igreja, com fogo de artificio. Fernanda Nóbrega @ CAMACHA - camacha (weebly.com) Manuel Filipe Gomes não nasceu na Camacha mas ao casar com uma camacheira, Genoveva de Nóbrega dos Casais d’Além em 1853, aqui ficou a residir e adoptou-a como sua. “Empregado nas obras públicas” extravasou o seu serviço à comunidade, tendo se dedicado durante quarenta anos a servir a freguesia, como vereador na Câmara de Santa Cruz e como regedor, cargo do qual foi exonerado com a idade de oitenta e um anos. Aquando do abandono, forçado, das funções de regedor “Um camacheiro”[i] fez publicar na imprensa regional uma lista das principais obras de Manoel Filipe Gomes, ao longo da sua extensa carreira: “Camacha e Caniço 1º- Estrada desde o Palheiro do Ferreiro até á egreja da Camacha. 2º- Estrada do Palheiro pelo sítio dos Tanques até o Valparaíso. 3º Estrada do Caminho do Meio, pelo Pico da Silva, Figueirinha, até á Ponte de João do Prado acima dos Lamaceiros para o Porto da Cruz. 4º- Estrada desde a Pedra Molle (Caniço até a Camacha). (1) 5º- Reforma das Estrada dos Reis Magos, pelo Pico do Arvoredo até a Camacha. 6º Estrada desde a Egreja da Camacha, pelo Pico da Silva até a fonte das Moças a leste do Poiso. 7º Estrada da Camacha pelo Porto Novo, Aguas Mansas, S. Pedro, chamado caminho da Lombada até á villa de santa Cruz, e calcetamento a seu pedido feito pela Camara. 8º - Concerto do caminho que vae da Achada Diogo Dias até o Pico da Silva. 9º Concerto do caminho da Madeira que vae do mesmo Pico da Silva e todos os demais que ahi vão dar. 10º- Concerto do Caminho do Palheiro do Ferreiro que vae dar à ponte da Aleguaria, (freguesia do Caniço). 11º- Caminho da Levadinha, freguesia de Gaula. 12º- Empenhou-se muito pela conservação da Achada da Camacha como logradoiro comum. 13º - Construiu a ponte sobre a ribeira do Porto Novo na freguesia da Camacha e por varias vezes a tem mandado concertar. 14º- Construiu a ponte dos Salgados sobre a mesma ribeira que vae dar á freguesia de Gaula. 15º- A fonte de S. Lourenço ao sitio da Egreja, de grande utilidade. (1)– Dirigiu esta estrada, sob as ordens do chefe das obras publicas municipais, hoje o sr. Conde do Ribeiro Leal (2)Todas estas obras foram feitas por sua iniciativa e a maior parte d’ellas por meio de subscripção, entre nacionais e estrangeiros promovida pelo sr. Manuel Filipe Gomes. Pagaram lhe bem! “ Fernanda Nóbrega @ CAMACHA - camacha (weebly.com) [i] Colecção de Jornais - Arquivo e Biblioteca Regional da Madeira
Até o início do século dezanove a freguesia era uma divisão eclesiástica, estando a sua administração na alçada da igreja. Com o liberalismo surgiu o conceito de paróquia civil e com ele a criação do cargo de Regedor, como responsável pela aplicação das leis e autoridade policial da freguesia. O cargo foi criado em 1836 sendo a primeira referência com relação à Camacha, encontrada até ao momento, datada de 1838, indicando como regedor-substituto Agostinho Albino do Rego, natural do Caniço e lá residente, dado nessa altura a Camacha ainda não ter ainda conquistado completamente o seu estatuto próprio. Logo no início da década seguinte o cargo passou a ser entregue a camacheiros, tendo sido José Teixeira das Neves o primeiro a exercer esse cargo. Pela mesma altura foi criado um uniforme para os regedores, contudo desconhece-se se algum camacheiro terá chegado a envergar tal garbo: “casaca azul, com um ramo de carvalho de ouro bordado em cada uma das golas, colete de casimira branca, calças azuis, botas e chapéu redondo. A casaca e o colete teriam botões com as Armas Reais. O chapéu teria o laço nacional e uma presilha preta, na qual estaria gravado o nome da freguesia”[i]. As funções foram se adaptando ao decorrer dos tempos e a partir de 1940 os regedores ficaram subordinados aos presidentes de câmara, sendo nomeados por estes para fazer cumprir, essencialmente, as normas municipais sem descurar, contudo o papel enquanto auxiliares das forças policiais e judiciais. A função foi extinta em 1976 aquando da implementação da nova Constituição. Durante os seus cento e quarenta anos de existência foram diversos os camacheiros que a exerceram. A lista que se apresenta abaixo é representativa de uma investigação ainda em curso e reflecte apenas as referências encontradas até o momento: 1845- José Teixeira das Neves 1862 – Joaquim de Sá - substituto 1868 - Joaquim de Sá 1874 - Manoel Filipe Gomes – exerceu durante 40 anos 1897- Januário Luiz Ferreira - substituto 1899 - Manuel Joaquim Nóbrega 1905 – José de Quintal Júnior 1905 - Alfredo Ferreira de Nóbrega – substituto 1906 – José António de Freitas 1906 – Frederico Rodrigues – substituto 1912 – José de Quintal Júnior 1912- António de Nóbrega Lacharte - substituto 1914 - José de Quintal 1923 – António Ernesto Martins 1923 – Manuel da Mota - substituto 1925 – Manuel Ferreira 1925 – Manuel Emídio Teixeira - substituto 1942 - Manuel Plácido de Freitas 1953 – António Ernesto Martins 1957 – José de Nóbrega Até 1976 - Adelino Gonçalves de Gois Fernanda Nóbrega @ CAMACHA - camacha (weebly.com) [i] Regedor – Wikipédia, a enciclopédia livre (wikipedia.org)
Actas da Câmara de Santa Cruz - Arquivo e Biblioteca Regional da Madeira Colecção de Jornais - Arquivo e Biblioteca Regional da Madeira * Na foto vê-se a casa paroquial concluída em 1957 No passado dia 6 de Julho perfizeram cinquenta e quatro anos de mais um dia grande para a Camacha, um soalheiro domingo em que foram inauguradas duas obras de grande valor para a freguesia: a Escola dos Eucaliptos e o Largo Conselheiro Aires de Ornelas. Foram dois projectos que levaram o seu tempo a se concretizar, a escola, incluída no Plano dos Centenários (vide Escolas do Plano dos Centenários ), começou a ser projectada em cinquenta e nove e a delineação da transformação da Achada num parque ajardinado teve início em sessenta (vide As metamorfoses da Achada), ambas por iniciativa do então presidente da Câmara de Santa Cruz, João Militão Rodrigues. O acto de inauguração foi efectuado pelo Governador Civil do Funchal, Coronel António Braamcamp Sobral, o qual no final do mês anterior já tinha vindo à Camacha conhecer as obras em questão. Depois de ter inaugurado alguns melhoramentos na, então, vila de Santa Cruz, chegou à Camacha ao final da manhã onde era aguardado por cerca de trezentas crianças, pelas professoras da nova escola, muitos populares, diversas entidades regionais e locais. Após uma breve visita às modernas instalações, houve lugar para uma pequena actuação de um grupo de folclore infantil, constituído apenas por alunas[i], por iniciativa da directora da nova escola, Maria Augusta Correia de Nóbrega[ii]. Findo este acto toda a comitiva dirigiu-se para o Largo da Achada onde foi recebida pela população local, pelo Grupo Folclórico da Casa do Povo da Camacha, pelo Grupo Folclórico da Boa Nova e por uma guarda de honra dos Bombeiros Municipais de Santa Cruz. Feito o corta-fitas sucederam-se o descerrar de um busto de Aires de Ornelas, a visita da comitiva ao novo parque e a inauguração do ringue com uma concentração de diversas equipas desportivas, um jogo de futebol entre o Marítimo e o Nacional e a finalizar a actuação do Grupo Folclórico da Camacha. Para além da massiva presença popular a imprensa assinalou a presença, não só, das diversas entidades do Concelho de Santa Cruz e do Funchal, como também alguns nomes da localidade: “Padre António Joaquim Pestana Martinho, pároco da Camacha, Aires Victor de Jesus, proprietário e antigo Presidente da Câmara Municipal de Santa Cruz, Álvaro de Nóbrega e José Goes, respectivamente Presidente da Direcção e da Assembleia Geral da Casa do Povo, José de Nóbrega, Regedor, Guilherme Abel Teixeira, João Cláudio de Nóbrega, dr. Alfredo Ferreira de Nóbrega, Gaspar de Andrade, José António Gouveia Andrade, Aires Tibúrcio da Mota, José Manuel Quintal de Jesus… Manuel Anastácio de Nóbrega”. Fernanda Nóbrega @ CAMACHA - camacha (weebly.com) Ao longo do século dezanove e no decorrer do século vinte muitas foram as ocasiões em que a Camacha se encheu de forasteiros, mas o 21 de Maio de 1972, provavelmente, terá sido um dia record, pelo menos é o que se infere das reportagens na imprensa de então.
Integrado no programa da Festa do Espírito Santo, pelo terceiro ano consecutivo, realizou-se o Cortejo Folclórico e Etnográfico “por iniciativa do povo daquela freguesia, bairrista e voluntarioso”[i] . Segundo o repórter do Diário de Notícias “o cortejo constituiu um autêntico êxito superior, se possível, aos das edições anteriores”. Ao longo de vinte e cinco viaturas e ainda seis quadros a pé, o cortejo revisitou os diversos temas da cultura e tradição da vida quotidiana popular, traduzindo a “obra do esforço do povo da freguesia, um povo dinâmico e empreendedor, que esquece todas as agruras e «mal entendidos» de comissões, para, quando chega a data do evento, congregar num só espirito de iniciativa, num bloco homogéneo de trabalho e canseiras, para que o cortejo se situe no esplendor em que eles do início pretenderam insuflá-lo.” Enquanto nas primeiras edições o chamariz principal seria a Festa do Espírito Santo, com fama enraizada desde meados do século dezanove, o facto de a Camacha ter realizado o cortejo, que desfilou pelas ruas da cidade no primeiro do ano, terá sido responsável pela impressionante hoste que se apresentou para assistir ao cortejo. “Desde o início da rampa das Carreiras até o Centro da Camacha (cerca de 2 km) o automóvel da nossa reportagem gastou 2 horas a rodar em marcha lenta, tal a aglomeração de veículos nos dois sentidos de trânsito. Mais de um milhar de automóveis voltou para o Funchal, sem sequer ter chegado à vista da Camacha!... O povo comprimia-se nas bermas da estrada pela qual passava o cortejo numa onda humana indiscritível que se verificava até o Largo da Achada e, aqui não se viam as clareiras habituais nestas manifestações: o largo era uma mole imensa de povo, duma multidão que, durante algumas horas, ali aguardou, a pé firme a chegada dos carros alegóricos” O Jornal da Madeira também fez destaque dos “milhares de espectadores que viram o cortejo passar comprimiram-se na berma da Estrada Nacional, desde a Padaria 25 de Agosto, nos Casais d’Além, até ao Largo Conselheiro Ayres de Ornelas. Nas varandas, nas árvores, nos terrenos maginais à estrada, viam-se inúmeras pessoas apinhadas e o entusiasmo indiscutível perpassava pela multidão conforme os vários carros iam a passar, demonstrando o seu significado e o seu quadro alegórico”. Um dia que, sem dúvida, muitos camacheiros ainda guardam na memória. Fernanda Nóbrega @ CAMACHA - camacha (weebly.com) Não foi a primeira vez que os camacheiros desceram em massa à cidade, fazer valer a sua voz (vide neste blogue A revolta dos camacheiros), mas desta, foi bem mais pacífica. Previsto para dia 31 de Dezembro de 1971, o Cortejo Folclórico e Etnográfico da Camacha acabou por acontecer no primeiro de Janeiro, devido ao mau tempo que se fez sentir no último dia do ano, e deslumbrou as “dezenas de milhares de madeirenses e forasteiros”[i] que o viram desfilar pelas ruas da cidade. Desafiados pela Comissão de Festas de Fim de Ano os camacheiros empenharam-se e levaram ao Funchal “não carros mais ou menos enfeitados, mas um verdadeiro repositório da riqueza etnográfica e folclórica da sua querida freguesia que, teimosamente, continua a lutar pela subsistência de temáticas regionais, quase extintas noutros centros rurais.” Segundo o Diário de Notícias foram muitos os obstáculos que a Comissão de Festas, a Direcção do Turismo da Madeira e a própria comissão camacheira, tiveram de ultrapassar para levar em frente o projecto. Um desses obstáculos teria a ver, eventualmente, com o percurso extenso: saída do Liceu, rua do Mercado Velho, Mercado, Rua Dr. Fernão de Ornelas, Rua do Aljube, Avenida Arriaga, Rotunda do Infante, Rua Cónego Jerónimo Dias Leite, Avenida do Mar, Mercado. O autor do artigo, verdadeiramente impressionado com aquele que classificou de melhor evento do programa de Festas de Fim de Ano, elogiou ainda a capacidade das gentes da Camacha em aproveitar esta oportunidade de promoção da sua terra e enalteceu o “muito esforço, muito trabalho insano, muitas vontades conjugadas, por dar corpo e vida à iniciativa. Mas a comissão do povo da Camacha que procedeu à organização do cortejo ultrapassou todas as espectativas”. Foram 300 figurantes a apresentar o trabalho de mais outras centenas que colaboraram na execução das viaturas que percorreram o Funchal, retratando os diversos temas: vimes, futebol, floristas, serradores, agricultura, serões, namoro, tosquias, tecedeira, sapateiro e sem faltar os bonecos de fogo, o folclore espontâneo dos grupos informais e os grupos de folclore existentes na época, o Grupo Folclórico da Casa do Povo da Camacha e o Grupo Folclórico Infantil da Camacha. No dia 31 de Dezembro de 1972 repetiu-se o cortejo nos mesmos moldes e segundo o Diário de Notícias num “sucesso crescente”. Contudo o sucesso não foi suficiente para assegurar a sua continuidade uma vez que o Cortejo Etnográfico foi entregue, no ano de 1973, à Comissão de Finalistas do Liceu Nacional do Funchal, sob orientação da escultora Manuela Aranha Biscoito. Fernanda Nóbrega @ CAMACHA - camacha (weebly.com) [i] Diário de Notícias da Madeira - ABM
Os registos notariais serão, talvez, uma das melhores bases de informação para encontrar referências toponímicas que se perderam no passar dos tempos. Presentes em muitas escrituras, inscritas nos livros notariais depositados no Arquivo Regional da Madeira[i], as nascentes e fontes, para além de serem um precioso bem para aqueles que as possuíam nas suas terras, constituíam também importantes referências que ajudavam a situar as diferentes propriedades.
Na Camacha, fruto das suas características geográficas, existiram ao longo dos tempos uma quantidade considerável de fontes que hoje, na sua maioria, terão se perdido em consequência das grandes alterações na forma de vida da população, de uma maior divisão dos terrenos, da impermeabilização dos solos e ainda outros motivos que não cabe aqui considerar. Graças aos registos notariais chegam até nós os nomes que as designaram através dos tempos, sendo que algumas terão sobrevivido até hoje e fazem parte da listagem que se segue: Fonte da Nogueira; Fonte dos Salgados; Fonte Concelo – Ribeirinha; Fonte da Ribeira dos Vinháticos – Igreja; Fonte da Caldeira - Achadinha; Fonte do Cita Christo - Lombo dos Bravos, na junção da Ribeira Pedro Lourenço com a Ribeira do Porto Novo; Fonte do Sabugo – Algures na margem oeste da Ribeira Pedro Lourenço; Fonte da Galinha – Ribeirinha; Fonte do Covão – Salgados (?); Fonte da Freira – Ribeirinha; Fonte do Forcado – Rochão (?); Fonte da Hortelã – Figueirinha; Fonte do Junco – Figueirinha; Fonte de José Correia- Igreja; Fonte de João dos Piquetes - Lombo Barreto (?); Fonte do Lombo do Pau- Ribeiro Serrão; Fonte do Poço do Louro – Ribeiro Serrão; Fonte da Relva - Ribeiro Serrão; Além destas ainda se encontram referências a outras que, sobretudo por se encontrarem dentro de propriedades, são apenas referidas como fonte nativa e não adquiriram o estatuto de referência toponímica. Apesar da aparente fartura, por um artigo inserido no Diário de Notícias em Setembro de 1896, temos informação que “As próprias nascentes de água potável são, na sua maioria, pessimamente aproveitadas, fornecendo-se ao consumo público em regatos o pôças, expostas a serem inquinadas por toda a espécie de impurezas. Isto explica talvez o facto estranho de se darem, em clima de tantra pureza e tão balsâmicos ares, frequentes doenças do aparelho gastro- intestinal. Há, porém, algumas fontes de grande pureza, completamente ao abrigo de inquinações, sendo a principal na propriedade do sr. Morgado Agostinho de Ornelas e Vasconcelos, que este cavalheiro mandou captar na sua origem, dentro de um bem construído fontenário que generosamente faculta ao consumo publico”. Nesse mesmo ano Manuel Filipe Gomes, regedor da Camacha e vereador na Câmara de Santa Cruz encetava esforços para que fosse construído um fontenário para serviço da população, o que veio a acontecer no ano seguinte (vide neste blogue O marco fontenário). Situado perto da igreja naturalmente que não servia toda a freguesia, contudo só trinta e sete anos mais tarde e na sequência de um surto de febre tifóide atribuído à má qualidade das águas no concelho, as entidades públicas equacionaram a construção de novos fontenários nos sítios do Rochão, Barreiros[ii], Eira Salgada e Achada. Pelos anos quarenta foram construídos um fontenário nas Carreiras e um outro no Ribeiro Fernando. Já no final da década de cinquenta, a Eira da Cruz e a Ribeirinha beneficiavam também de uma dessas estruturas que a rápida transformação social sequente, tornou obsoletas. Fernanda Nóbrega @ CAMACHA - camacha (weebly.com) Muito do que hoje nos é absolutamente trivial, um dia terá sido excepcional novidade. Apesar de não se terem encontrado, até ao momento, testemunhos, quer escritos quer de tradição oral, facilmente se pode conjecturar o espanto e o deslumbre, decorrentes da chegada à Camacha do primeiro carro pesado de mercadorias, pertencente a um camacheiro. Esse singular momento terá ocorrido entre o final de Janeiro e a primeira quinzena de Fevereiro de 1932. A viatura, de marca Whippet, saiu da fábrica em Toledo, Ohio, nos Estados Unidos em 1929. Chegou a Portugal em 1930 e foi adquirida por César Augusto Santos, residente em Santa Luzia, no Funchal, que a registou nos serviços de Viação da Circunscrição da Madeira em 15 de Março desse ano, tendo lhe sido atribuído o número 1082. A 27 de Janeiro de 1932 a Empresa Camachense de Automóveis, Limitada, sociedade por quotas sediada na Camacha, adquiriu essa viatura, tendo efectivado o negócio o seu sócio-gerente Frederico Rodrigues. Passados quinze dias o carro pesado, destinado a aluguer, mudou de proprietário passando para a mãos de Frederico Nóbrega Rodrigues, de vinte e três anos, residente no Vale Paraíso, filho de Francisco de Nóbrega e Virgínia dos Santos Rodrigues. Passado um ano, no mês de Novembro o carro foi vendido para o Funchal, no ano seguinte mudou de novo de mãos, tendo acabado em 1935 nas mãos da Associação de Bombeiros Voluntários Madeirenses. Fernanda Nóbrega @ CAMACHA - camacha (weebly.com) ABM- Direcção dos Serviços Industriais, Eléctricos e de Viação da Junta Geral do Distrito Autónomo do Funchal
*Foto original em Adelaide, Australia - September 25, 2016: Vintage 1929 Willys Whippet Tourer Driving On Country Roads Near The Town Of Birdwood, South Australia. Stock Photo, Picture And Royalty Free Image. Image 85300950. (123rf.com) No final de Agosto de 1929 chegou à Madeira, vinda no vapor Gonçalo Velho, uma imagem de Nossa Senhora do Rosário de Fátima, destinada à Camacha. Segundo a notícia inserida no Diário da Madeira, a imagem media 1,70m sendo a maior estátua, desta devoção, que existia à época na Madeira. No início de Setembro, saindo da Alfândega do Funchal, a imagem foi colocada numa capela improvisada no sítio do Vale Paraíso, onde ficou a aguardar a realização da festa do Sagrado Coração de Jesus, prevista para o dia 22 desse mês. Entretanto um operário “que recebeu há tempos uma graça especial da Senhora de Fátima que consistiu na cura duma terrível moléstia quando já se encontrava desenganado dos médicos”[i], iria construir um altar, a ser colocado à direita da capela do Santíssimo Sacramento, para acolher a imagem na Igreja Matriz. No dia da festa, após a cerimónia religiosa celebrada ao meio-dia, saiu uma imponente procissão, da qual faziam parte todas as confrarias da freguesia, numerosas crianças, cinco andores, “muitos pendões”, cruzes e uma banda de música, com destino à capela onde estava a imagem, no Vale Paraíso. Aí chegado o cortejo, a imagem foi benzida e integrada no séquito que regressou à igreja, colocando-a no altar propositadamente construído para esse fim. Em 1933, por iniciativa do padre João Augusto Faria, foi construída a capela de Nossa Senhora do Rosário para onde, presumivelmente, a imagem terá sido transferida. Do seu primeiro altar desconhece-se o destino. Fernanda Nóbrega @ CAMACHA - camacha (weebly.com) [i] ABM, colecção de jornais, Diário da Madeira. A notícia não refere o nome do operário
A princípio terá sido pacífico, não havia água no Caniço vieram à serra buscar. A partir do momento que a Camacha ganhou entidade própria e a sua população começou a crescer terão começado os desentendimentos[i]: para os heréus das levadas que corriam para o Caniço a água era sua e a lei reconhecia-lhes esse direito, para os camacheiros ficava o sentimento de injustiça e a reivindicação de um bem que viam cair dos céus, brotar das fontes e correr na ribeira junto às suas propriedades, mas que lhes era negado com base num direito ancestral sustentado em leis de 1493 e 1502.
A do Pico do Arvoredo era uma dessas levadas, cuja madre se localizava nos altos do Rochão e cujas águas foram sendo disputadas, ao longo do tempo, entre os “legítimos” proprietários, do Caniço, e os camacheiros que, regularmente, faziam “sacadas de torrões” para poderem regar as suas culturas. A situação era complexa porque na realidade muitas pessoas do Caniço dependiam dessa água, para a vida do dia a dia, pelo que periodicamente os heréus vinham à Camacha à sua procura, e destruíam as sacadas que consideravam um atentado à sua propriedade. A situação arrastou-se ao longo dos anos, criando tensões recorrentes, até que a 29 de Agosto de 1912, sob os auspícios de Aires de Ornelas, que cedeu a sua quinta para o efeito, de Manuel Jesus de Antas e Almeida, professor do ensino primário, e Frederico Rodrigues, proprietário; como testemunhas, e Manuel Plácido de Freitas, proprietário; em representação dos outorgantes, foi assinado um acordo entre um grupo de pequenos proprietários, maioritariamente da Figueirinha e Rochão, com terrenos nas margens da Ribeira da Quebrada e do Ribeiro da Hortelã ou Passinho, e os heréus da Levada do Pico do Arvoredo, representada pelo presidente da sua comissão administrativa, o padre Francisco Ascensão de Freitas, do Caniço. Basicamente o acordo estabelecia a obrigação da comissão da Levada construir dois poços para entancar águas, dos referidos cursos de água e das fontes do Charco dos Porcos e da Hortelã, na Figueirinha, por forma a garantir as necessidades dos lavradores locais que por seu lado se comprometiam a deixar de fazer as sacadas, com que desviavam o fornecimento de água à levada. Segundo o mesmo acordo a gestão da água dos poços ficava a cargo dos trinta e quatro signatários camacheiros. Foram eles: Luís Teixeira Neves e Maria de Jesus; José António Teixeira Júnior e Maria de Freitas; Maria de Nóbrega viúva de Manuel Teixeira de Jesus; Gabriel Vieira Prioste e Virgínia de Jesus; Maria de Nóbrega viúva de João Rodrigues; João Rodrigues e Maria de Jesus; Manuel de Freitas; Manuel Barreto e Maria de Jesus; António Rodrigues e Maria de Freitas, todos moradores na Figueirinha, António Barreto; José Barreto e Genoveva Baptista; João Teixeira Batoque e Maria de Gouveia; António Gonçalves e Perpétua de Jesus; Francisco Gonçalves e Rosa de Sousa; Manuel Gonçalves e Maria Baptista; Aleluia Baptista viúva de Manuel de Freitas; Manuel de Quintal Roque e Maria de Jesus; Manuel de Quintal; Manuel Teixeira; Francisco Teixeira, todos do Rochão e ainda Manuel Rodrigues e Perpétua de Nóbrega residentes na Ribeira das Cales. Fernanda Nóbrega @ CAMACHA - camacha (weebly.com) Em 1907 Baden-Powell, oficial do exército inglês, criou o conceito de Escotismo. Em 1911 o Tenente Álvaro Machado introduziu-o em Macau e logo depois foi-se disseminando pelo restante território português. Apesar da nobreza de princípios, o movimento não era do total agrado da Igreja Católica portuguesa, devido à sua associação, na época, às Igrejas Protestantes. Foi por esse motivo que em 1923, sob iniciativa do Arcebispo Primaz D. Manuel Vieira de Matos, em Braga, foi fundado o Corpo Nacional de Escutas, o qual foi oficialmente instituído na Madeira em Dezembro de 1928[i]. No início do mês de Agosto de 1929 o Diário da Madeira noticiou a chegada do movimento escotista à Camacha, pelas mãos do recém-criado Corpo Nacional de Scouts: “Escotismo Está a organizar-se nesta aprasivel estancia, sob o patrocinio de Nuno Alvares, um grupo de escoteiros, encontrando-se já inscritos cêrca de 60 rapazes, entre «lobos» e «lobitos». Foi muito bem recebida aqui a louvável ideia da fundação daquele grupo, não só pela disciplina que obriga aos seus componentes como também pelos bons serviços que prestam à sociedade. Teem vindo à Camacha auxiliar o oficial instrutor dos noveis escotistas, os srs. Jaime Ramos e António Figueira de Sousa, do grupo «Infante D. Henrique»[ii], do Funchal.” Pelo mesmo diário obtém-se a informação de que o grupo “Nun’Alvares, desta freguesia, fará o seu juramento no dia 22 de setembro. As fardas já se encontram na «Loja das Camélias». O nosso estimado amigo sr. Patrício Morais Gonçalves, digno 1º sargento do exército tem se esforçado para prepara-los na maior ordem e disciplina.” A notícia faz ainda uma referência à sede do agrupamento, a qual se pode presumir ter sido na Capela de S. José atendendo à designação escolhida para o grupo. De resto desconhece-se quanto tempo terá subsistido, sendo que a única referência relacionada, encontrada até ao momento, diz respeito ao Acampamento (vede artigo neste blogue) mas que, no entanto, não faz qualquer alusão a escoteiros camacheiros. A página do actual Agrupamento 1288[iii] situa no início da década de setenta, a primeira iniciativa escotista na Camacha, pelo que se deduz que a informação relativa a este assunto terá se perdido, também, na tradição oral. Fernanda Nóbrega @ CAMACHA - camacha (weebly.com) [i] CNE-Madeira | cnemadeira
[ii] Primeiro agrupamento do Corpo Nacional de Escutas, na Madeira [iii] Escuteiros CNE - Agrupamento 1288 (paroquiadacamacha.com) ABM Colecção de Jornais * Pela paisagem circundante aparenta ser no Funchal Do calendário camacheiro destacaram-se, desde tempos de que não ficou memória, duas datas em que a junção do religioso com o profano se traduziram em dias maiores para a freguesia: a Festa do Espírito Santo, a oscilar entre o final de Maio e o início de Junho e a Festa do Santíssimo Sacramento, no final do mês de Agosto. Tanto uma como outra atraiam inúmeros forasteiros e são recorrentes as notas que a imprensa regional apontava, ao longo dos anos, sobre esse prisma. Ocasionalmente as notícias foram um pouco mais longe dando-nos conta de alguns aspectos mais peculiares da forma como a população local vivia o evento. É um desses testemunhos que se transcreve abaixo, relativo à Festa do Espírito Santo no ano de 1946: “Promete revestir-se de excecional brilhantismo a Festa do Espírito Santo na Camacha, que se realiza este ano nos próximos dias 9, 10 e 11 de Junho. O povo daquela localidade— animado pelo seu incansável vigário, o reverendo padre Medeiros, acha-se possuído de um invulgar entusiasmo, para que aquela tradicional festa atinja o maior esplendor. Nos vários sítios estão a organizar-se romagens registando-se já valiosas oferendas em gado, produtos da terra, artefactos, vestuário, etc. que no domingo 9 formarão um grande cortejo que deverá chegar ao campo da Achada pelas 11 horas da manhã. Essas ofertas serão depois recolhidas em numerosas barracas, representativas dos respectivos sítios, armadas naquele vasto recinto, afim de serem leiloadas, umas, sorteadas outras, e cujo produto se destina a favor da igreja. Nesse mesmo dia, à tarde, será organizado um outro cortejo com as oferendas, pão, doces, géneros alimentícios, etc.— que constituirão o bodo dos pobres. Nos dias 9 e 10 tocarão duas bandas de música, havendo profusas iluminações, devendo ser queimado muito fogo de estrondo. Tosos os esforços se conjugam para que aquelas populares festas atinjam o máximo do brilhantismo, em tudo digno da fama que gosam em toda a ilha. As cerimónias religiosas também se revestirão de excecional pompa, apresentando-se a igreja ricamente decorada com flores e lumes.”[i] Fernanda Nóbrega @ CAMACHA - camacha (weebly.com) [i] Arquivo Regional e Biblioteca Pública da Madeira, Colecção de Jornais, Diário de Notícias
Mais sobre esta festa neste bloque em Segunda feira da Camacha e Imperador e Mordomos Por motivos que não foi possível apurar, uma onda de associativismo percorreu a Camacha em 1904. Já antes aqui se falou da Sociedade Santa Isabel que surgiu no Rochão em Novembro de 1904. Antes de isso, no mês de Agosto e com sedes no extremo oeste e centro da freguesia, tinham surgido duas outras sociedades dentro do mesmo espírito e objectivos. O facto de no mesmo ano, nesta pequena localidade, terem surgido três associações comerciais com o objectivo principal de abrirem uma mercearia para fornecimento dos seus sócios, ultrapassa o mero apontamento intrigante e curioso, dado que das suas escrituras consegue-se extrair um apanhado das principais actividades da freguesia no início do século vinte. Com sede no sítio do Ribeiro Fernando, junto ao Ribeiro do Pinheirinho, na casa de João Rodrigues de Sousa nasceu a Sociedade de S. João. Apesar de situada no extremo da freguesia os seus sócios fundadores vieram de quase todos os sítios da freguesia: Semião de Nóbrega, Manuel de Andrade, Manuel de Jesus, Manuel de Gois, José de Gois Júnior, José de Gois, João de Gois, António de Nóbrega, José de Rodrigues, todos lavradores do sítio da Ribeirinha; Manuel Teixeira, António de Ornelas, João de Quintal, Francisco de Freitas, Manuel de Andrade, António de Freitas, João de Ornelas, lavradores; Manuel de Quintal, sapateiro, todos do sítio da Nogueira; José Correia, João Correia, José Pedro Gonçalves, Manuel de Gouveia, lavradores dos Casais d’ Além; Manuel de Freitas, Manuel Teixeira, lavradores da Achadinha; Manuel de Freitas, José Paulo Teixeira, António Rodrigues, António Teixeira Júnior, lavradores do Vale Paraíso; João Rodrigues de Sousa, guarda de levada, João Fernandes, Manuel Fernandes, lavradores do Ribeiro Fernando; Pedro de Andrade do Rochão. A este grupo de trinta e um camacheiros juntaram-se ainda dois indivíduos do Caniço, faltando ainda sete sócios para perfazer o objectivo da sociedade que era alcançar os quarenta sócios com quotas de doze mil reais, para perfazer um total de quatrocentos e oitenta mil reis de capital social. A gestão da sociedade funcionaria com base em mandatos de três meses dos eleitos por dois terços dos sócios. A primeira direcção foi assumida por: Manuel de Quintal, presidente; António Teixeira Júnior, secretário; Manuel de Andrade, tesoureiro; Manuel de Goes, João Fernandes, Manuel Fernandes, Vogais e João de Ornelas seria o Vendeiro. No centro da freguesia, no sítio da Igreja, na mesma data nasceu outra sociedade congénere cujos sócios fundadores foram: João Barreto Sénior, João Martins, Francisco Martins, João de Andrade Sénior, José Januário Gonçalves, José Martins, Manuel de Nóbrega, José de Andrade, João Teixeira, industriais (de obra de vimes?)[i], Manuel Teixeira Júnior, proprietário e João de Freitas, oficial de obra de vimes, todos do sítio da Igreja. José Ferreira Júnior, Júlio Fernandes Teixeira e António Pereira Júnior, industriais da Achadinha. Manuel Teixeira Feijão, industrial, José João de Freitas, proprietário e Jesuíno de Miranda, cozinheiro, todos dos Casais d’Além. Manuel dos Santos, proprietário dos Salgados. A data da sua constituição aparenta ter sido um pouco forçada, dado que aquando da escritura de constituição não estava ainda definido um nome para a sociedade nem local exacto para o seu funcionamento. O seu capital seria de trezentos e oitenta mil reis, sendo que cada sócio entraria com a quantia que pudesse. Assim como a outra sociedade os mandatos seriam de três meses sendo que a primeira direcção foi assumida por: José Ferreira Júnior, presidente; Manuel Teixeira Júnior, Secretário; João Barreto Sénior, tesoureiro e Manuel Teixeira Feijão, José de Andrade, José Teixeira Júnior, vogais. Qual a durabilidade e eficácia destas sociedades e o seu impacto na freguesia são dados que, infelizmente, até o momento não se encontraram quaisquer fontes de informação. Fernanda Nóbrega @ CAMACHA - camacha (weebly.com) [i] A escritura apenas refere Industriais
Arquivo Regional e Biblioteca Pública da Madeira, Notariais, Cartório Notarial: Santa Cruz |
Autores Somos vários a explorar estes temas e por aqui iremos partilhar o fruto das nossas pesquisas. O que já falámos antes:
Abril 2024
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