História, histórias e curiosidades
Os registos notariais serão, talvez, uma das melhores bases de informação para encontrar referências toponímicas que se perderam no passar dos tempos. Presentes em muitas escrituras, inscritas nos livros notariais depositados no Arquivo Regional da Madeira[i], as nascentes e fontes, para além de serem um precioso bem para aqueles que as possuíam nas suas terras, constituíam também importantes referências que ajudavam a situar as diferentes propriedades.
Na Camacha, fruto das suas características geográficas, existiram ao longo dos tempos uma quantidade considerável de fontes que hoje, na sua maioria, terão se perdido em consequência das grandes alterações na forma de vida da população, de uma maior divisão dos terrenos, da impermeabilização dos solos e ainda outros motivos que não cabe aqui considerar. Graças aos registos notariais chegam até nós os nomes que as designaram através dos tempos, sendo que algumas terão sobrevivido até hoje e fazem parte da listagem que se segue: Fonte da Nogueira; Fonte dos Salgados; Fonte Concelo – Ribeirinha; Fonte da Ribeira dos Vinháticos – Igreja; Fonte da Caldeira - Achadinha; Fonte do Cita Christo - Lombo dos Bravos, na junção da Ribeira Pedro Lourenço com a Ribeira do Porto Novo; Fonte do Sabugo – Algures na margem oeste da Ribeira Pedro Lourenço; Fonte da Galinha – Ribeirinha; Fonte do Covão – Salgados (?); Fonte da Freira – Ribeirinha; Fonte do Forcado – Rochão (?); Fonte da Hortelã – Figueirinha; Fonte do Junco – Figueirinha; Fonte de José Correia- Igreja; Fonte de João dos Piquetes - Lombo Barreto (?); Fonte do Lombo do Pau- Ribeiro Serrão; Fonte do Poço do Louro – Ribeiro Serrão; Fonte da Relva - Ribeiro Serrão; Além destas ainda se encontram referências a outras que, sobretudo por se encontrarem dentro de propriedades, são apenas referidas como fonte nativa e não adquiriram o estatuto de referência toponímica. Apesar da aparente fartura, por um artigo inserido no Diário de Notícias em Setembro de 1896, temos informação que “As próprias nascentes de água potável são, na sua maioria, pessimamente aproveitadas, fornecendo-se ao consumo público em regatos o pôças, expostas a serem inquinadas por toda a espécie de impurezas. Isto explica talvez o facto estranho de se darem, em clima de tantra pureza e tão balsâmicos ares, frequentes doenças do aparelho gastro- intestinal. Há, porém, algumas fontes de grande pureza, completamente ao abrigo de inquinações, sendo a principal na propriedade do sr. Morgado Agostinho de Ornelas e Vasconcelos, que este cavalheiro mandou captar na sua origem, dentro de um bem construído fontenário que generosamente faculta ao consumo publico”. Nesse mesmo ano Manuel Filipe Gomes, regedor da Camacha e vereador na Câmara de Santa Cruz encetava esforços para que fosse construído um fontenário para serviço da população, o que veio a acontecer no ano seguinte (vide neste blogue O marco fontenário). Situado perto da igreja naturalmente que não servia toda a freguesia, contudo só trinta e sete anos mais tarde e na sequência de um surto de febre tifóide atribuído à má qualidade das águas no concelho, as entidades públicas equacionaram a construção de novos fontenários nos sítios do Rochão, Barreiros[ii], Eira Salgada e Achada. Pelos anos quarenta foram construídos um fontenário nas Carreiras e um outro no Ribeiro Fernando. Já no final da década de cinquenta, a Eira da Cruz e a Ribeirinha beneficiavam também de uma dessas estruturas que a rápida transformação social sequente, tornou obsoletas. Fernanda Nóbrega @ CAMACHA - camacha (weebly.com)
0 Comments
Leave a Reply. |
Autores Somos vários a explorar estes temas e por aqui iremos partilhar o fruto das nossas pesquisas. O que já falámos antes:
Abril 2024
Categories |