História, histórias e curiosidades
Diz o dicionário que uma achada é um planalto pouco extenso, uma palavra que derivou do latim, planata e um topónimo frequente na Macaronésia portuguesa. A designação da Achada na Camacha é provavelmente tão antiga quanto a chegada dos primeiros povoadores, mas dificilmente se poderá apurar quem a encontrou, designou e a declarou como sua. Caldeira, Ferreira, Gouveia, Santos, Baptista, Freitas, Nóbrega, são nomes de família associados à venda de terrenos localizados na Achada da Camacha, por inícios de 1800. Por meados do século já os ingleses tinham adoptado a Camacha e feito da Achada o seu ground de jogos, primeiramente apenas cricket mais tarde também futebol. Para tal arrendavam o terreno, segundo indiciam alguns documentos, de diferentes anos, encontrados nos registos notariais. Daqui surgiu o nome de Jogo da Bola que entre os finais do século dezanove e inícios do século vinte, foi usualmente utilizado para designar aquele espaço. Em 1903, a Câmara de Santa Cruz iniciou um processo, a fim de assumir a propriedade da totalidade do terreno e assim legitimar o logradouro tido como comum (vide A Achada é dos camacheiros). Contudo, só a partir da terceira década começou a evidenciar algum interesse em cuidar e melhorar o espaço. Em 1925 procedeu ao calcetamento da entrada da Achada e porque “sendo indispensável que os trabalhos de aformoseamento do Campo da Achada da Camacha sejam delineadas por pessoa competente e de conhecimento d’obras daquele género”[i] pediu, em Abril de 1926, à Câmara do Funchal a cedência do seu engenheiro, para projectar e coordenar os trabalhos. Desconhece-se o resultado desta intervenção e nem se percebe o porquê de em Setembro de 1930 a Câmara proibir a prática de futebol, sob pena de “multa e procedimento criminal por desobediência”, dado a Junta Geral ter incumbido o engenheiro agrónomo Maurílio Ferraz da Silva de coordenar os trabalhos de arborização e relvagem do dito planalto em 1931, o que nos leva a concluir que antes disso nada tinha sido feito. Em Maio de 1939 a Câmara voltou a se debruçar sobre o assunto, pedindo apoio à Delegação de Turismo para transformar a Achada num campo de jogos e parque. Em Junho 1941 encarregou Júlio França de “proceder ao estudo da “parquisação”[ii] e no decorrer de 1943 solicitou igual trabalho aos arquitectos, Francisco Alberto Correia Figueira e David Moreira da Silva, tendo chegado a aprovar um anteprojecto deste último. No entretanto ambicionou uma relva americana, da qual desistiu por ser excessivamente cara, tendo então optado por relva regional. Procedeu ao plantio de árvores e arbustos e fez diversas pequenas intervenções que pouco ou nada alteraram o espaço. A partir de 47 procedeu ao calcetamento de passeios e caminhos o que se prolongou à década seguinte. Na segunda sessão de Janeiro de 1948 deliberou erguer “um monumento histórico desportivo para perpetuar o reconhecimento deste concelho ao percursor do futebol em Portugal Excelentíssimo senhor Harry Hinton”[iii], criando para isso uma comissão que desse andamento ao projecto. Em Fevereiro voltou a decidir proceder à “parquisação“ e em Março proibiu a realização de jogos de futebol naquele espaço. No ano seguinte, no mês de Agosto foi decidido por unanimidade alterar o nome, passando a designar-se de Parque do Doutor João Abel de Freitas. A electricidade chegou à Camacha e no mês de Agosto de 1955 a Câmara adquiriu 15 lâmpadas que passaram a iluminar as noites da Achada. Mais decisiva para, finalmente, desbloquear a velha aspiração de transformar o descampado da Achada num parque ajardinado, foi a dádiva feita por um munícipe, não identificado, que 1959 ofereceu água suficiente para garantir a sua manutenção. Foi então contratado o arquitecto Luís da Conceição Teixeira que elaborou um projecto do qual constavam basicamente os elementos que caracterizaram este espaço nos últimos cinquenta anos, até a recente betonização. O processo teve início em 1960 e prolongou-se até ao final da década, tendo sofrido diversas alterações em relação ao projecto original: a plataforma destinada a exibições não chegou a ter o projectado estrado de madeira nem a vedação metálica; entre outros equipamentos faltaram também as mesas no redondo, o obelisco e o guarda-sol em ferro, à saída do parque infantil. O Ringue de patinagem, o espelho de água, o monumento ao futebol e a estátua mantiveram-se, se bem com algumas alterações. O que se alterou também no final deste processo, em Junho de 1969, foi o nome oficial passando-se a designar Largo Conselheiro Aires de Ornelas, se bem que na voz da população local ainda hoje continue a ser, simplesmente, a Achada. Fernanda Nóbrega @ CAMACHA - camacha (weebly.com) [i] Arquivo Regional e Biblioteca Pública da Madeira- Actas das sessões da Câmara Municipal 1926-1930
[ii] Arquivo Regional e Biblioteca Pública da Madeira- Actas das sessões da Câmara Municipal 1939-1940 [iii] Arquivo Regional e Biblioteca Pública da Madeira- Actas das sessões da Câmara Municipal 1944-1948 [iv] Arquivo Regional e Biblioteca Pública da Madeira · Câmara Municipal de Santa Cruz - Actas das sessões da Câmara Municipal · Direcção de Obras Públicas · Notariais
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Abril 2024
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