História, histórias e curiosidades
Um esboço da Madeira. POR L. F. RAMSEY, no Irish Monthly AS carreteiras estavam a voltar da cidade: o suave plat! plat! dos seus pés descalços nos paralelepípedos soou, mesmo através dos tons estridentes das suas vozes no ar parado da Madeira. A porta da casa onde Pichincha estava a morrer estava aberta, pois só assim a luz e o ar encontravam entrada para a casa sem janelas. A velha Pichincha estava deitada na sua cama de palha no canto, segurando o seu rosário com os dedos trémulos, e seus olhos desbotados observando a porta, ansiosa pelo retorno da neta. _Setenta anos!_ ela murmurou_ sim, é hora de ir. Tenho pena de não ver os pintainhos sair, a galinha estava choca há tanto tempo que eu tinha mesmo que a pôr a chocar. E ovos são tão desejados nesta época do ano também; mas a vontade do Senhor seja feita, é hora de eu partir. Eu já não sirvo para muito agora, a não ser para apanhar erva para o gado, e há pouco disso, Deus sabe, com toda esta seca. E a Ludovinha vai se casar em breve. O Gomes é um bêbado, é verdade, mas Santa Mãe, uma pessoa tem que casar com alguém e mais ninguém a pediu. O som de um sino a tocar no caminho abaixo, despertou a velha dos seus pensamentos errantes, um olhar de espectativa devota iluminou o seu rosto enrugado, embora não estivesse ninguém lá para ver isso. Poucos segundos depois, o padre e o sacristão da aldeia subiram os íngremes degraus na rocha que levavam à porta da casa. Ludovinha, a neta de dezoito anos vinha logo atrás. _É a sagrada comunhão!_ murmurou Pichincha num sussurro pasmo. O casebre estava construído na colina, da mesma forma que a maioria das casas rurais na Madeira: o piso era terra batida sobre a qual a cobertura de colmo tinha sido levantada: Quase não tinha moveis, tinha apenas a cama, duas cadeiras e um baú, contudo a simples fé dos ocupantes fez da pobre casa um templo digno. A cerimónia acabou, o caridoso padre ficou mais alguns momentos para dar conforto à velha e à sua neta, que estava a chorar ruidosamente. _Vossa reverência que desculpe!_ disse Pichincha humildemente_ ela ainda é jovem e tem todos os seus problemas diante dela. Eu lembro-me quando o meu marido morreu, eu chorei durante um ano. Mas no mês passado, eu não derramei uma única lágrima quando perdemos o porco, embora apenas um dia ou dois antes, me tivessem dado quinze dólares por ele! O padre foi embora e o curto crepúsculo da Mareira transformou-se em noite. As estrelas brilhavam intensamente através da porta aberta e o pequeno aposento estava preenchido com os aromas misturados da mimosa que rodeava a casa e das rosas brancas que cresciam na sebe. Ludovinha enxugou as lágrimas e acendendo uma vela foi para a cozinha buscar alguma comida. A cozinha nunca faz parte da casa de habitação, nas zonas rurais da Madeira: se um casebre consiste em apenas um quarto, um barraco pode ser encontrado perto, que é onde a comida é cozinhada. Muitas vezes não há fogão, apenas um fogo aberto numa grade de tijolos e com um buraco através do tecto para deixar sair um pouco de fumo é suficiente para as necessidades daqueles cuja dieta consiste, anos após ano, em papas de farinha de milho (milro), variando com sopa de couve. Ludovinha voltou trazendo uma camada de milho frito na palma da mão e começou a comer a sua ceia. Ela comeu em silêncio pensando que a sua avó estava a dormir. Mas a velha estava deitada, olhando para a semi escuridão e o seu coração cheio de suprema paz. Os seus pecados foram todos perdoados. Ao todo, não eram muitos: de certeza foi o caso das galinhas da Senhora. Tinha sido muito estranho. A Senhora na quinta acima tinha posto a galinha a chocar ao mesmo tempo que a Pichinha pôs a sua no ano anterior. A Senhora tinha apenas aves brancas, enquanto as dela eram do tipo preto comum. Quando os pintainhos saíram foi Pichincha quem teve galinhas brancas, as de Senhora eram negras como a noite. A Senhora havia comentado sobre isso quando passou por lá e a Pichincha disse: _ Mas o que fazer, Senhora, se Deus quis enviar galinhas brancas para a Pichincha e negras para a Senhora não me cabe a mim reclamar. E a Senhora respondeu secamente que foi ela quem se queixou. Depois houve aquele outro caso do porco, sim, isso foi muito errado ela sabia: tinha morrido de sarampo e foi uma grande perda, foi. Apenas poucos dias antes lhe tinham oferecido quinze dólares por ele. Um pequeno pedaço de pão é melhor do que nada: então, quando o velho 'Sopa de Couve' lhe ofereceu dois dólares pela carcaça e sem fazer perguntas ela tinha aceitado a oferta. Claro que estava errado, se bem que o 'Sopa de Couve' enviaria a carne para a Costa Africana Ocidental, onde os negros não se importavam se um animal foi morto para salvar a sua vida. E ela havia confessado tudo ao padre que a tinha ouvido com simpatia. Disse-lhe que ela tinha agido errado, mas que se ela se arrependesse, seria perdoada. Ela confessou-lhe também a sua rivalidade com a Felisberta, que morava numa casa abaixo da Achada. Ela teve um desentendido com a Felisberta, há anos atrás porque apanhou o filho da Felisberta, Ricardo, a roubar as suas maçãs e bateu-lhe. A Felisberta respondeu que iria ensinar Pichincha a não bater no filho dela e não se falavam desde então. Obviamente a Felisberta estava errada, mas o padre disse a Pichincha que se ela queria morrer em paz deveria amar e perdoar o próximo. Então, ela disse: _Se acabaste de comer Ludovinha, põe o lenço e vai à casa da Felisberta e pede-lhe para ela para vir falar comigo. _Felisberta!_ exclamou Ludovinha, parando de lamber os últimos fragmentos de milho da mão_ mas ela não pode vir!_ disse num tom de voz diferente. _Mas porque não? Ela tem que vir! _Nem todos os santos poderiam trazê-la!_ respondeu Ludovinha seriamente_ ela caiu de uma árvore, quando andava a apanhar folhas para o gado e partiu uma perna. _Ela vai morrer?_ perguntou Pichincha com interesse. _O médico pensa que não, mas ela nunca mais será capaz de subir árvores. Pichincha ficou imóvel por alguns momentos a pensar e depois falou novamente_ mesmo assim, quero que vás à casa da Felisberta. Lembras-te que a filha dela, Isabella, morreu no ano passado? Diz à Felisberta que não tenho muitas horas de vida, o médico disse isso e ele sabe. Diz-lhe que eu lamento muito ter batido no Ricardo, mas que eram as minhas maçãs... não, não digas nada sobre as maçãs! Diz-lhe que daqui a pouco, talvez amanhã, devo ver a Isabella, e pergunta-lhe se ela tem alguma mensagem para mandar. _Mas, avó_ objectou Ludovinha_ já esta escuro e a lua ainda não levantou. Vou caminhar sozinha para a casa da Felisberta e o Gomes vai ficar zangado se souber disso, que estive fora de casa sozinha depois de anoitecer. Não dá para ir de manhã ? _Pela manhã eu terei partido_ disse a velha calmamente_ vai agora e depressa. O Gomes não vai saber e se souber não pode ficar com raiva quando lhe contares a razão. Ludovinha levantou-se com relutância, amarrou a 'toucada', o lenço colorido, usado como adorno para a cabeça pelas camponesas madeirenses e saiu soprando cuidadosamente a vela. As velas eram caras e não fazia sentido desperdiçá-las. Deixou a porta da casa aberta, e desceu com cuidado o caminho. Estava muito escuro lá fora, pois não havia luzes em qualquer uma das casas. Ludovinha passou com medo pelo cemitério, fazendo o sinal da cruz, esforçando-se para afastar os maus espíritos. Havia luzes na quinta além, os ingleses ricos que lá viviam queimavam luzes mesmo numa sala vazia! Ao passar Ludovinha olhou para as janelas e, bocejando, espantou-se porque é que os moradores não tinham ido já para cama, uma vez que sendo ricos poderiam agradar a si mesmos_ mas eles são ingleses!_ disse para a si mesma a explicar as suas estranhas maneiras. A estrada parecia ainda mais escura depois de passar pelas luzes da quinta e ela correu mais rápido. Quando passou pela venda, o vendeiro veio à porta curioso para ver quem estava a passar tão tarde. _Boa noite, Ludovinha!_ chamou ele_ a senhora Pichincha está melhor? _Não esta melhor!_ respondeu Ludovinha, abanando a cabeça. _Ah, bom, todos nós temos que morrer algum dia_ respondeu ele_ eu disse a mim mesmo, quando vi o padre passar com a Sagrada Comunhão, a Pichincha deve estar pior! É a vontade de Deus Ludovinha! _Sua vontade seja feita!_ respondeu Ludovinha, e depois com uma “boa noite” apressada ela seguiu. Os seus pés descalços voaram rapidamente sobre os paralelepípedos densamente cobertos com agulhas dos pinheiros que ladeavam o caminho. Uma coruja piou sobre a sua cabeça... um zumbido de asas e Ludovinha estremeceu e benzeu-se, o pássaro tinha ido em direcção à casa de sua avó. Na sua imaginação, Ludovinha podia ver o pássaro em cima da casa cantando seu pio triste, e ela apressou os seus passos, sentindo que agora era certo que sua avó morreria naquela noite. Felisberta recebeu-a com grande espanto. Toda a família, e eles eram muitos, amontoados ao redor da cama enquanto Ludovinha falava da sua incumbência. Eles estavam a dormir momentos antes, alguns deles sentados na porta com as cabeças inclinadas sobre os joelhos, mas eles estavam bem acordados agora. À medida que ouviam o que dizia Ludovinha iam atirando comentários. Os gemidos de Felisberta, regularmente intervalados, pareciam provir mais de um sentido de importância do que de facto dor, pois quando falava saia uma torrente de palavras. _Eu também sou culpada_ disse ela quando conseguiu fazer a sua voz ser ouvida_ as crianças são problemáticas e precisam correcção. E se ela bateu no Ricardo, não foi mais do que ele merecia. Mas uma pessoa vê menina, mas não é fácil culpar os seus, especialmente os rapazes. Agora, diga à senhora Pichincha que nós somos boas amigas e que não demorará muito que eu também veja Isabella novamente. Mas foi gentil da parte dela, se oferecer para levar uma mensagem. Ouça agora então, menina, diga à Senhora Pichincha para dizer à Isabella que não a esquecemos aqui na Camacha. Que lhe conte o Inverno muito frio que tivemos, como a neve desceu até a Achada e como pensámos nela no seu aconchegante e quente paraíso. E, menina, diga à senhora Pichincha para não dizer que eu parti a minha perna, a Isabella era sempre tão meiga, e isso iria entristecê-la. _ Senhora Felisberta_ disse Ludovinha_ a minha avó está muito doente e igualmente velha, temo que ela se esqueça dessas mensagens antes de chegar ao Paraíso. _Você está certa, menina_ disse a mulher doente_ além disso, porque eu deveria sobrecarregá-la com eles, pois se eu também verei Isabella brevemente. Maria!_ gritou ela chamando a criança mais nova, uma menina de nove anos_ vai ao jardim, e apanha todos amores-perfeitos. _Mas está tão escuro!_ objectou a criança. _Vai também tu então, Manoel!_ disse para um menino de dez anos que estava encostado à porta. As crianças correram de mãos dadas e logo voltaram com um grande monte de amores-perfeitos roxos. _Pegue estes, menina_ disse a mulher doente, pondo as flores nas mãos de Ludovinha_ peça à Senhora Pichinha que dê isso a Isabella, com o meu amor. Eles não serão nenhum problema para ela carregá-los. Ludovinha voltou apressada para casa da avó e descobriu que o pássaro de advertência não falara em vão: na sua ausência o espírito de sua avó voou. Chorando, ela colocou os amores-perfeitos roxos no peito sem vida e sussurrou no ouvido que não ouve: _Para Isabella com o amor de sua mãe! tradução: Fernanda Nóbrega @ CAMACHA - camacha (weebly.com) Pansies for Thoughts. A Sketch from Madeira. BY L. F. RAMSEY, in the 'Irish Monthly The baskets-women were returning from the town: the soft plat! plat! of their bare feet on the cobblestones sounded even through the shrill tones of their voices in the still Madeira air. The door of the cottage where Pichincha lay dying stood open, for only so could light and air find any entrance into the windowless hovel. Old Pichincha lay on her bed of leaves in the corner, clutching her Rosary with trembling fingers, her fading eyes watching the doorway ; anxiously for her granddaughter's return. 'Seventy years!' she muttered. 'Yes, . it's time to go. I'm. sorry not to see those chickens come out though. The hen had been broody so long I was obliged to set her: and eggs so dear at this time of the year, too; but the will of the Lord be done! It's time I went. I'm not good for much now except for gathering the food for the cattle, and 'there's little enough of that, God knows, with all this drought. And Ludovinha - will be marrying soon. It's true Gomes is a drunkard, but Holy Mother! one must marry someone and no one else has asked her.' The sound of a bell ringing on the road below startled the old woman from her wandering thoughts; a look of devout expectation lighted up her wrinkled face, though no one was there to see it. A few seconds later the priest and his server from the village climbed the steep steps in the rock that led to the cottage door. Ludovinha, the eighteen-year-old granddaughter of the old woman, followed. 'It is the Host!' murmured Pichincha in an awe-struck whisper. The hovel was built into the hill behind after the fashion of most of the country cottages in Madeira: its floor was the original earth over which the ' roof had been raised: it was bare of all furniture save the bed, two chairs and a chest: yet the simple faith of the occupants made it ho unworthy temple there. The ceremony over, the kindhearted priest stayed a few moments to speak comforting words to the old woman and her grand-daughter, who was sobbing noisily. 'Excuse her, your /reverence!' said - Pichincha humbly. 'She is but young and has all her troubles before her. I remember when my husband died, I never stopped crying for a year. But last month I did not shed a single tear when we lost the pig, though only a day or two before I'd been offered fifteen dollars for it!' The priest went away and the short Madeira twilight faded into night. The stars shone brightly in at the open door and the tiny room was1 filled with the mingled scents of the mimosa that over hung the cottage and the white roses that clambered over the hedge. Ludovinha dried her tears and, lighting a candle, went out to the kitchen in search of some food. The kitchen never forms part of the dwelling-house in the country districts of Madeira: if a hovel consists of only one room some shed is to be found near by in which the food is cooked. Often there is no stove: an open fire in a brick grate with a hole through the roof to let out some of the smoke suffices for the needs of those whose diet consists from one year's end to another of maize meal porridge (milro), varied by cabbage soup. Ludovinha returned bringing in a slab of cold milho on the palm of her hand and proceeded to eat her supper. She ate on in silence thinking that her grandmother was asleep. But the old woman was lying gazing up into the semidarkness, her heart filled with supreme peace.' Her sins had all been forgiven. They were not many, all told. There: was the affair of the Senhora' s chickens, to be sure: it had been very ' strange that the Senhora at the quinta above had set her hen at the same time as Pichinha last year: the Senhora had, only white fowls while hers were of the common black kind: yet when the chickens came out it was Pichincha who had white chickens, those of Senhora being as black as night. The Senhora herself had remarked on it as she passed the cottage, and Pichincha had said: 'But what would you, Senhora? If ' God wants to: send white chickens to Pichincha and black ones to the Senhora it is not for me to complain.' And the Senhora had drily remarked that it was she who had complained. Then there was that other affair of the pig: yes, that had been very wrong she knew: it had died of the measles and it was a great loss as it was, for only a tew days before she had been offered fifteen dollars for it. Still a small piece of bread is better than none: so when old 'Cabbage Soup' had offered her two dollars for the carcase and no questions asked she had thankfully accepted his offer. Of course, it was wrong, though 'Cabbage Soup' would send the meat down to the West African Coast, where the blacks did not mind if an animal had been killed to save its life. And she had confessed all to the priest: he had listened with sympathy, and had told her that she had done wrong, but that if she repented she would be for given. And then she had told him of her feud with Felixberta, who lived at the cottage below the Achada. She had fallen out with Felixberta years ago because she had caught Felixberta's boy, Ricardo, stealing her apples and had cuffed him. Felixberta had retorted that she would teach Pichincha to beat her boy! They had not spoken since: certainly Felixberta had been in the wrong, but the priest had told Pichincha that if she wanted to make a good end she must be in love and charity with her neighbors. So presently she said: 'If you have finished eating; Ludovinha, put on your handkerchief and go up to Felixberta's cottage and ask her to come and speak to me.' 'Felixberta!' exclaimed Ludovinha, stopping in the act of ljcking the last fragments of milho off her hand., 'But she cannot 'come!' she added in a different-tone. 'But why not? She 'must' come!' 'Not all the saints could bring her!' replied Ludovinha composedly. 'She has fallen from a tree, gathering leaves for the cattle, and has broken her leg.' 'Will she die?' asked Pichincha with interest. 'The doctor thinks not, but she will never be able to climb trees again.' Pichincha lay still for a few moments and thought. At last she spoke again: 'Still, I want you to go to Felixberta. You remember that her daughter Isabella died last year. Tell Felixberta that I have not many hours to live: the doctor has' said so, and he knows. Tell her that I am sorry I struck Ricardo, but that they were my apples — no, don't say anything about the apples! Tell her that in a little while, perhaps to-morrow, I shall be seeing Isabella, and ask her if she has any message to send her.' 'But, grandmother,' objected Ludovinha, 'it is already dark and the moon is not yet up. It is a lonely walk to Felixberta's cottage, and Gomes will be angry if he hears that -I have been out alone after nightfall. Will not the morning do?' 'By the morning I shall be gone,' said the old woman calmly. 'Go now, and hasten. Gomes will not know, and if he should, he cannot be angry when you tell him the reason.' Ludovinha rose reluctantly, tied on her 'toucada,' the colored handkerchief worn as a head-dress by the Madeira peasant, and went out of the cottage, carefully blowing out the candle before she left. Candles . were expensive, and there was no sense In wasting them. She left the door of the cottage open, and climbed carefully down the path. It was very dark outside, for there were no lights in any of the cottages. Ludovinha crept fearfully past the cemetery, crossing herself to keep away evil spirits. There were lights in the quinta beyond, for rich English people lived there: they would burn lights even in an empty room! Ludovinha looked at the windows in passing, and, yawning, wonder ed why the inhabitants did not go to bed, since being rich they could please themselves. 'But they are English!' she said to herself in explanation of their strange ways. The road seemed all the darker after she had passed the lights of the quinta. And she hurried on faster. As she passed the venda, the inkeeper came to the door curious to see who was passing so late. 'Good night, Ludovinha!' he called out. 'Is the Senhora Pichincha better?' 'No better!' replied Lurovinha, shaking her head. 'Ah, well, we must all die some time or other!' he replied. 'I said to myself when I saw the priest pass with the Host, 'Pichincha will be worse!' God's Will be done, Ludovinha!' 'His Will be done!' answered Ludovinha, and then with a hurried good night she passed on. Her bare feet flew quickly over the cobblestones so thickly strewn with pine needles from the overhanging trees. An owl shrieked over head. A whirr of wings, and Ludovinha shivered and crossed herself; the bird had gone towards her grandmother's cottage. In her imagination, Ludovinha could see the bird sitting on tho roof and uttering its mournful cry, and she hastened her steps feeling that now in deed it was certain that her grandmother would die that night. Felixberta received her with great astonishment. The whole family, and they were many, crowded round the bedside while Ludovinha told her errand. They had been asleep' a few moments before, some of' them sitting at the door with their heads bowed over their knees but they were wide awake enough now as they listened to Ludovinha and chimed in with various ejaculations and comments. ? Felixberta's groans at regular intervals seemed to proceed more from a sense of importance than from actual pain, for when she spoke a voluble torrent of words poured forth. 'I also was at fault,' she said when she could make her voice heard. 'The children are troublesome, and they need correction, and if she did hit Ricardo it was no more than he deserved. But one sees, 'menina,' one does not readily blame one's own, especially the boys. Tell now Senhora Pichincha that we are good friends and that it will not be long before I, too, see Isabella again: but it was kind of her to offer to take a message. See now then, 'menina': say to Senhora Pichincha. to tell Isabella that we do not forget her here in Camacha: tell her what a cold, cold winter we had, how the snow came down even to the Achada: that we thought of -, her snugand warm in Paradise. And, 'menina,'tell the Senhora Pichincha not to say that I have broken my leg: Isabella was always so tender-hearted, and it would grieve her.' 'Senhora Felixberta,' said Ludovinha.'My grandmother is very ill, and she is likewise old: I fear that she will forget these messages before she gets to Paradise.' 'You are right, 'menina,' ' said the sick woman. 'Besides, why should I worry her with them since I myself also shall see Isabella so soon; Maria!' she called to the youngest child, a girl of nine. 'Go you out into the garden, and pick all the blossoms of the Perfect Love (pansies).''But it is so dark!' objected the child. 'Go you also then, Manoel!' to a ten year-old boy who stood leaning against the door. The children ran out hand in hand and soon returned with a big bunch of purple pansies. 'Take these, 'menina,' ' said the sick woman, thrusting the flowers into Ludovinha's hands. 'Bid the Senhora Pichinlha'give these to Isabella with my love. They will be no trouble for her to carry.'Ludovinha hastened back to her cottage to find that the bird of warning had not spoken in vain: in her absence her grandmother's spirit had flown Weeping, she laid the purple pansies on the lifeless bosom and whispered in the unhearing ear: 'For Isabella with her mother's love!' Conto publicado em 17 de Fevereiro de 1927 em Freeman's Journal Sydney originalmente publicado no jornal Literário Irish Monthly em data desconhecida.
0 Comments
No dia vinte e um de Novembro de 1895 Luiz Filipe Gomes filho do, à época, regedor da Camacha Manoel Filipe Gomes, dirigiu-se ao Diário de Notícias incumbido de uma nobre missão. Tratava-se de fazer publicar um agradecimento, em nome pessoal e de toda a população da Camacha por um valioso melhoramento público efectuado na localidade por um cidadão privado. Desde meados desse ano que a Camacha vira crescer uma edificação da qual o Diário de Notícias, de vinte e nove de Maio, dava conta numa pequena notícia: “O sr. dr. Grabham está mandando construir uma torre na propriedade que possue no sítio da Achada freguesia da Camacha ” Michael Comport Grabham[i] cidadão britânico natural de Essex, médico, filho e irmão de médicos veio para a Madeira em 1861 e aqui casou com Mary Anne Blandy em 1865. Culto e dedicado a múltiplos interesses tornou-se uma referência no estudo do clima, botânica, geografia, fauna terrestre e marítima, da Madeira. Era um exímio organista que promovia pequenos concertos para os seus amigos e que ainda conseguia encaixar tempo para se dedicar às suas colecções de bilar, sinos e relógios, colecção esta que chegou às duzentas unidades, dos mais variados tamanhos e modelos. Da gestão deste conjunto de interesses para além da actividade profissional, depreende-se uma pessoa altamente organizada, para quem a gestão do tempo teria, com certeza, uma importância digna da excentricidade de oferecer à população uma forma mais precisa de medir o passar dos dias, construindo uma torre para isso. Apesar de só ter sido oficialmente inaugurada em seis de Abril de 1896[ii], uma Segunda-feira de Páscoa, através do agradecimento publicado em vinte e dois de Novembro de 1895 constata-se que nessa data estava já finalizada e apta a desempenhar as funções para a qual foi construída: “Não havendo na Camacha relogio publico por onde se pudessem regular os moradores, o snr. dr. Grabham mandou construir, a expensas suas, junto à esplanada do Jogo da Bola, uma elegante torre de pedra e cal, com seu zimbório dourado e pára-raios, fazendo collocar n’ella um magnifico relogio e respectivo sino cujas badaladas se ouvem em toda a povoação.” Fernanda Nóbrega @ CAMACHA - camacha (weebly.com) [i] Michael Comport Grabham | RCP Museum (rcplondon.ac.uk)
[ii] Informação constante numa placa no local. Arquivo Regional e Biblioteca Pública da Madeira, Colecção de Jornais, Diário de Notícias, Segundo os censos de 2021, a Camacha teria à data da sua realização 6247 indivíduos: 3221 mulheres, 3026 homens, distribuídos por 2766 alojamentos[i]. Ao longo dos seus 344 anos de existência, a tendência foi, maioritariamente, a de uma população em crescimento e que atingiu o seu pico máximo (até agora) de 7991 habitantes no ano de 2001, tendo vindo a decrescer desde então, para valores aproximados aos de 1970. Em 1864, Portugal deu início aos recenseamentos periódicos da população[ii] e a partir dessa data consegue-se obter informação com relativa facilidade. No que diz respeito a datas anteriores a informação é bastante mais escassa, contudo encontram-se algumas referências que nos permitem ter uma visão, em traços largos, do crescimento populacional da freguesia. Por um documento de 1683[iii], no qual o padre Gaspar Pinto Correia pediu ao rei o aumento da Ermida de S. Lourenço, sabe-se que à época o número de habitantes ultrapassava as duzentas almas. 1765 – No respectivo livro paroquial de registo de Baptismos encontra-se a informação que a Camacha tinha 75 fogos sem contudo mencionar o número de pessoas que os habitavam. 1807- O Jornal literário “ O Investigador Portuguez em Inglaterra”, publicado em Junho de 1811 apresentou uma tabela da população portuguesa em 1807[iv]. A Camacha tinha 690 habitantes sendo que eram do sexo feminino de 1 a 7 anos-49; de 7 a 14-59; de 14 a 50-184 e de 50 a 90-39. Do sexo masculino de 1 a 7 anos-79; de 7 a 14-69; de 14 a 60-178 e de 60 a 90-33. 1822 – Através do “Diario das Cartes Geraes e Extraordinarias da Nacão Portugueza”[v] sabe-se que o número de habitantes ascendia a 770, sem mais pormenores. 1836 – Os jornais da época publicaram o resultado de um recenseamento realizado que indicou: 215 fogos, 1107 habitantes; 543 mulheres , 564 homens, 327 casais, 56 viúvos e 724 solteiros. 1849– No relatório elaborado por Servulo Drummond de Menezes[vi], Secretário Geral do Governo Civil do Funchal em 1850, encontram-se os números relativos a 1849: 248 fogos; 1162 habitantes; 589 mulheres, 573 homens. Nascimentos: 25 do sexo feminino, 28 do sexo masculino. Óbitos: 7 do sexo feminino, 10 do sexo masculino. Refere ainda os 7 casamentos realizados nesse ano. A partir daqui o crescimento acelera em crescimento com excepção de 1900, 1981, 2011 e 2021 em que o total é inferior ao valor alcançado no recenseamento anterior. Fernanda Nóbrega @ CAMACHA - camacha (weebly.com) [i] 28-07-2021 - DREM divulga Resultados Preliminares dos Censos 2021 para a Região Autónoma da Madeira
[ii] Censos 2021 (ine.pt) [iii] Torre do Tombo, Provedoria e Junta Real da Fazenda do Funchal, Secretaria da Junta, Registo Geral da Fazenda e Contos, Livro de Registo das provisões e mais ordens da fazenda e contos da ilha da Madeira, p. 278 [iv] O Investigador portuguez em Inglaterra, ou Jornal literario, politico, &c - Google Livros [v] Diario das cartes geraes e extraordinarias da nacão portugueza: May 1, 1822 ... - Google Livros [vi] Uma epocha administrativa da Madeira e Porto Santo: á contar do dia 7 de ... - José Silvestre Ribeiro - Google Livros Não se encontram muitas nem detalhadas descrições, ao longo dos tempos, dos habitantes da Camacha. Encontram-se diversas referências em petições, feitas em diferentes ocasiões e diferentes reinados, mas quase sempre relacionadas à igreja. E porque se tratava, sempre, de pedir apoio financeiro para alguma coisa, a população era descrita como muito pobre, sem mais adiantar sobre os seus modos de vida. Contudo não se encontrou, até hoje, documentos que dêem consistência a essas afirmações e que confirmem a extrema pobreza alegada, maioritariamente, pelos padres nas suas petições. São por isso preciosas as duas descrições que vimos encontrar no início do século dezanove que apesar de algo antagónicas e de certa forma subjectivas, conseguem traçar um interessante retrato do povo da freguesia. Segundo Don Frei Joaquim de Meneses e Ataíde,[i] em 1813 “O povo da Camacha emprega-se em levar cargas de giesta e lenha para a cidade... As mulheres trabalham como os homens e o mais é que as raparigas de 15 e 16 anos vão à serra cortar matto e carregando-o à cabeça levam-no à cidade como os homens... o seu vestuário consiste em uma saia de baeta ou algodão, uma pequena capa até a cintura, uma carapuça na cabeça, como as saloias de Lisboa, mas sem meias nem sapatos.” Conquanto considerasse o povo afável, religioso e trabalhador, esta independência da mulher camacheira não agradava ao Bispo, que lhe atribuía “as desgraças que inundam a Camacha”. Passados quatro anos, Paulo Dias de Almeida, Tenente-Coronel do Real Corpo de Engenheiros no seu livro Descrição da Ilha da Madeira[ii] refere à Camacha como fazendo parte do distrito do Caniço e assim a descreve: “A Freguesia da Camacha é muito bem auborizada: os povos de desta freguezia empregão-se, a maior parte em carretar lenhas e frutas. São os mais elegantes camponios do sul da ilha. Veja-se a estampa 21” Ao longo do século dezanove foram se alterando as ocupações da população camachense, em grande parte também graças às influências que foi recebendo da crescente visita de forasteiros, madeirenses e estrangeiros. Contudo nesse processo evolutivo não se perdeu a vaidade camacheira, aqui reflectida na poesia popular[iii]: As meninas da Camacha Não comem senão abobora P’ra poiparem dinheiro P’ra fazerem fatos da moda. Fernanda Nóbrega @ CAMACHA - camacha (weebly.com) [i] ALMEIDA, Eduardo de Castro e, Archivo de Marinha e Ultramar, inventário: Madeira e Porto Santo, Coimbra 1909. Vol.II, doc.12465, p.333
[ii] Descripção da Ilha da Madeira em geral, e cada huma de suas freguezias, villas, lugares em particular, suas produções, numeros de fogos, e seus habitantes, e estado actual de suas fortificações- Arquivo Regional e Biblioteca Pública da Madeira [iii] Revista lusitana: arquivo de estudos filológicos e etnológicos relativos a Portugal, Volume 17- 1914 |
Autores Somos vários a explorar estes temas e por aqui iremos partilhar o fruto das nossas pesquisas. O que já falámos antes:
Abril 2024
Categories |