História, histórias e curiosidades
Na década de cinquenta, o Funchal foi porto de amaragem dos flying boats da Aquila Airways que ligavam a Madeira a Southampton.
O turista que filmou a chegada do hidroavião deixou igualmente um registo brevíssimo da Camacha; apenas um relance da Capela de São José, de uma tenda de obra de vimes e da igreja matriz. Ainda assim, um registo precioso de um tempo já distante. Álvaro Nóbrega @ CAMACHA - camacha (weebly.com)
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É um facto, tido há muito como certo que o primeiro hotel na Camacha foi aquele construído por Frederico Rodrigues, no final da segunda década do século vinte, de que hoje só restam as ruínas que todos conhecem. Empreendedor multifacetado, Frederico Rodrigues adquiriu a quinta pertencente a Michael Grabham para a transformar num hotel que respondesse à procura de um turismo em crescimento na Madeira. Contudo a presença de forasteiros ocasionais na Camacha começara bastante tempo antes. Foi em meados do século dezanove que a Camacha se tornou numa estância apetecida, para fugir às altas temperaturas dos Verões no Funchal. Os primeiros turistas a frequentar a Camacha construíram as suas próprias quintas e quintinhas ou arrendavam moradias que os camacheiros mais empreendedores foram disponibilizando para o efeito. Nos diversos jornais da época encontram-se regularmente anúncios de quintas e moradias para arrendar durante o Verão. É neste contexto de alta procura que surge uma pequena nota no Diário de Notícias de dezanove de Maio de 1889[i]: “A pitoresca freguezia da Camacha parece que este anno será muito concorrido de touristes. Diversas familias d'esta cidade vão alli veranear, aproveitando o belo fresco que alli se goza. O sr. Cardwel vae estabelecer na quinta Holloway, um hotel não só para os seus hospedes do Funchal, como para quaesquer outras familias, achando-se já alguns quartos tomados. A Camacha é sem duvida uma aprasivel estancia.” Ao que tudo indica, terá sido na quinta Holloway que terá funcionado, pelo menos durante o Verão de 1889 o primeiro hotel da Camacha. Se terá tido alguma continuidade depois disso, não se encontraram, até agora, indícios. Mesmo que tivesse tido continuidade seria por pouco tempo, dado que em 1891[ii] João António Bianchi adquiriu a quinta para seu uso privado. Optou definitivamente pelo outro nome, a qual também era conhecida e que o mesmo iria enobrecer, dois anos mais tarde, ao associar o nome da sua quinta ao título com que fora agraciado: Visconde (da Quinta) do Vale Paraíso. Fernanda Nóbrega @ CAMACHA - camacha (weebly.com) Em Dezembro de 1911 a Câmara Municipal de Santa Cruz recebeu um requerimento da firma Raleigh C. Payne pedindo uma licença para passar fios de fornecimento de energia eléctrica na freguesia da Camacha. Em 28 de Dezembro foi concedida a licença[i]. Apesar de servir apenas alguns poucos privilegiados, não deixa de ser notável atendendo que na Madeira somente o Funchal dispunha então fornecimento de luz eléctrica. Em Maio de 1895 foi concedida a licença e em 1897 o Funchal acendia as primeiras luzes com energia fornecida por uma pequena Central Eléctrica do Funchal[ii]. No primeiro de Fevereiro de 1912 a empresa fez novo pedido, desta vez especificando o sítio da Igreja como local para construir a central e daí deflectir fios suportados em postes colocados, não só em propriedades privadas como também em estradas e caminhos públicos. Neste novo pedido a empresa incluía a vila de Santa Cruz e segundo um artigo no Diário da Madeira[iii] toda a energia seria produzida na central da Camacha e transportada até Santa Cruz. Nos documentos consultados, quer da Câmara Municipal de Santa Cruz quer nos jornais da época, não foram localizados, até agora, indícios de se ter efectivado o ambicioso projecto. Contudo pode se conjecturar que o projecto inicial, baseado só na Camacha foi efectivado. Em 1923, Frederico Rodrigues pediu uma licença na Câmara, para passar fios aéreos suportados em postes, para fornecimento de luz eléctrica a diversas habitações, no sítio da Igreja. Sabendo que este intrépido proprietário adquiriu diversos imóveis na Camacha, à medida que os ingleses iam desejando se desfazer deles, é perfeitamente plausível que a Central Eléctrica da Camacha fizesse parte desse lote de aquisições. De qualquer modo, a Camacha tem relevância na história da energia eléctrica regional sendo que até meados do século vinte, a par com a Ponta do Sol, era um dos locais fora da cidade do Funchal, onde existia fornecimento de energia eléctrica. [iv] O fornecimento, como o conhecemos hoje, começou a ser delineado apenas em 1954 com a publicação do Decreto-lei de 16 de Março de 1954 o qual definiu a 1.ª fase do plano de electrificação rural na Madeira. [v] No entanto, especialmente as zonas de mais difícil acesso só iriam receber este benefício nos anos oitenta. Fernanda Nóbrega @ CAMACHA - camacha (weebly.com) [i] Arquivo Regional e Biblioteca Pública da Madeira, Actas das sessões da Câmara Municipal de Santa Cruz (1907-1913)
[ii] https://www.eem.pt/pt/conteudo/eem/quem-somos/a-nossa-hist%C3%B3ria [iii] Arquivo Regional e Biblioteca Pública da Madeira, Colecção de Jornais, Diário da Madeira [iv] https://www.eem.pt/pt/conteudo/eem/quem-somos/a-nossa-hist%C3%B3ria [v] Arquivo Regional e Biblioteca Pública da Madeira, Empresa de Electricidade da Madeira Em 1945 a Câmara Municipal de Santa Cruz, presidida por Aires Victor de Jesus, natural da Camacha, elaborou um extenso plano de obras com o qual almejava atender às mais diversas necessidades de todo o concelho. Desse plano fazia parte a “construção de um pequeno mercado, talho, casa de matança, privadas e mictorios, em cada freguesia”[i]. Na Camacha a Câmara adquiriu um terreno para esse efeito, abaixo da igreja onde existia, então, uma casa em ruínas. Em vinte e sete de Abril de 1945 o engenheiro Abel Rodrigues da Silva Vieira , director das Obras Públicas do Funchal enviou para a Câmara de Santa Cruz um projecto, pelo qual cobrou dois mil escudos, para o mercado a construir na Camacha. Tratava-se de um prédio quadrangular com um andar. No rés-do-chão propunha a instalação de um estábulo, o matadouro, casas de banho públicas e o calabouço de polícia rural. No primeiro andar ficaria o mercado propriamente dito, com espaços designados para talho, peixaria, frutaria, hortaliças e ainda mercearia. Em Setembro do mesmo ano a obra foi posta a concurso. Foram apresentadas duas propostas sendo a obra arrematada pelo valor de 147.600$00, menos vinte escudos que a proposta derrotada. Para realizar esta obra, para além de vender a pedra e a telha da casa em ruínas, que renderam respectivamente quinhentos e setecentos e cinquenta escudos, a Câmara solicitou diversos apoios governamentais. Em Fevereiro de 1948 a Direcção Geral dos Serviços de Urbanização informou a aprovação de uma comparticipação e em Março do mesmo ano o Comissariado do Desemprego informava também ter efectuado uma comparticipação. Quando, como e se entrou em funcionamento, até o momento não foi localizada informação. Fernanda Nóbrega @ CAMACHA - camacha (weebly.com) [i] Arquivo Regional e Biblioteca Pública da Madeira - Actas da Câmara Municipal de Santa Cruz – 1944-48
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Autores Somos vários a explorar estes temas e por aqui iremos partilhar o fruto das nossas pesquisas. O que já falámos antes:
Abril 2024
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