História, histórias e curiosidades
A princípio terá sido pacífico, não havia água no Caniço vieram à serra buscar. A partir do momento que a Camacha ganhou entidade própria e a sua população começou a crescer terão começado os desentendimentos[i]: para os heréus das levadas que corriam para o Caniço a água era sua e a lei reconhecia-lhes esse direito, para os camacheiros ficava o sentimento de injustiça e a reivindicação de um bem que viam cair dos céus, brotar das fontes e correr na ribeira junto às suas propriedades, mas que lhes era negado com base num direito ancestral sustentado em leis de 1493 e 1502.
A do Pico do Arvoredo era uma dessas levadas, cuja madre se localizava nos altos do Rochão e cujas águas foram sendo disputadas, ao longo do tempo, entre os “legítimos” proprietários, do Caniço, e os camacheiros que, regularmente, faziam “sacadas de torrões” para poderem regar as suas culturas. A situação era complexa porque na realidade muitas pessoas do Caniço dependiam dessa água, para a vida do dia a dia, pelo que periodicamente os heréus vinham à Camacha à sua procura, e destruíam as sacadas que consideravam um atentado à sua propriedade. A situação arrastou-se ao longo dos anos, criando tensões recorrentes, até que a 29 de Agosto de 1912, sob os auspícios de Aires de Ornelas, que cedeu a sua quinta para o efeito, de Manuel Jesus de Antas e Almeida, professor do ensino primário, e Frederico Rodrigues, proprietário; como testemunhas, e Manuel Plácido de Freitas, proprietário; em representação dos outorgantes, foi assinado um acordo entre um grupo de pequenos proprietários, maioritariamente da Figueirinha e Rochão, com terrenos nas margens da Ribeira da Quebrada e do Ribeiro da Hortelã ou Passinho, e os heréus da Levada do Pico do Arvoredo, representada pelo presidente da sua comissão administrativa, o padre Francisco Ascensão de Freitas, do Caniço. Basicamente o acordo estabelecia a obrigação da comissão da Levada construir dois poços para entancar águas, dos referidos cursos de água e das fontes do Charco dos Porcos e da Hortelã, na Figueirinha, por forma a garantir as necessidades dos lavradores locais que por seu lado se comprometiam a deixar de fazer as sacadas, com que desviavam o fornecimento de água à levada. Segundo o mesmo acordo a gestão da água dos poços ficava a cargo dos trinta e quatro signatários camacheiros. Foram eles: Luís Teixeira Neves e Maria de Jesus; José António Teixeira Júnior e Maria de Freitas; Maria de Nóbrega viúva de Manuel Teixeira de Jesus; Gabriel Vieira Prioste e Virgínia de Jesus; Maria de Nóbrega viúva de João Rodrigues; João Rodrigues e Maria de Jesus; Manuel de Freitas; Manuel Barreto e Maria de Jesus; António Rodrigues e Maria de Freitas, todos moradores na Figueirinha, António Barreto; José Barreto e Genoveva Baptista; João Teixeira Batoque e Maria de Gouveia; António Gonçalves e Perpétua de Jesus; Francisco Gonçalves e Rosa de Sousa; Manuel Gonçalves e Maria Baptista; Aleluia Baptista viúva de Manuel de Freitas; Manuel de Quintal Roque e Maria de Jesus; Manuel de Quintal; Manuel Teixeira; Francisco Teixeira, todos do Rochão e ainda Manuel Rodrigues e Perpétua de Nóbrega residentes na Ribeira das Cales. Fernanda Nóbrega @ CAMACHA - camacha (weebly.com)
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Abril 2024
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