História, histórias e curiosidades
Em Dezembro de 1940, a promulgação de uma lei integrada no Orçamento Geral do Estado para 1941, previa o lançamento de um plano para dotar todo o país de uma rede escolar constituída por escolas condignas, construídas de raiz, devidamente pensadas e adequadas às suas funções, à luz dos critérios da época. Apesar de as comemorações oficiais dos centenários da Fundação de Portugal (1139[i]) e da Restauração de Portugal (1640) terem terminado umas semanas antes, o plano foi integrado nas suas comemorações e recebeu a designação de Plano dos Centenários. Coube à Direcção Geral dos Edifícios e Monumentos Nacionais concretizar este projecto que ambicionava dotar o país com 12500 novas salas de aula. As Câmaras Municipais foram contactadas para aferir necessidades, mas apenas um terço respondeu aos inquéritos enviados. Entre as que o fizeram, a Câmara de Santa Cruz e graças a isso foi assim comtemplada, em 1944, com 32 projectos de escolas apetrechadas com 71 salas de aula, a distribuir por todo o concelho. Competia à Câmara, sob a presidência do camacheiro Aires Victor de Jesus, decidir quantas escolas queria. O executivo camarário optou por apenas vinte, distribuídas pelas diferentes freguesias. O sítio da Igreja (Igreja, Achadinha, Casais d’Além e Vale Paraíso), encabeçava a lista de prioridades logo seguido do Rochão (Rochão, Ribeiro Serrão). A Ribeirinha (Ribeirinha, Salgados) e a Nogueira (Nogueira, Ribeiro Fernando) figuravam também na lista surgindo, respectivamente, em décimo e décimo primeiro lugar. As seis primeiras da lista foram logo integradas no plano para 1945, sendo que para a escola da Igreja, Camacha, previam-se seis salas: três para o sexo feminino e três para o sexo masculino; e igual número para o Rochão. As restantes distribuídas por Gaula e Santo da Serra totalizavam apenas seis salas, o que de certo modo reflecte as necessidades de cada localidade. Boas intenções havia, mas o processo não era assim tão linear. Uma vez que a construção seria comparticipada pela DGEMN, a mesma impunha um conjunto de regras quanto às dimensões dos terrenos para implantação dos edifícios escolares, que deveriam ser edificados segundo projectos fixos, iguais para todos e já estabelecidos. A unidade base era naturalmente as salas de aula com 8x6 m, 3,5 m de pé direito e grandes janelas para permitir boa iluminação natural, ao que se juntavam: átrio, cantina, sanitários e recreio coberto. Os terrenos deveriam ter no mínimo 2000m2, para uma escola de apenas uma sala, e permitir que a fachada principal fosse orientada a sul/sudoeste. Igualmente relevante a condição de que não seriam comparticipados, a Câmara teria que os adquirir por sua conta, assim como cinquenta por cento dos equipamentos necessários para o funcionamento escolar. E terá sido, ao que tudo indica, esse o principal obstáculo a inviabilizar o andamento do processo. Em 1956 a Câmara conseguiu adquirir um conjunto de terrenos[ii], não na Igreja nem no Rochão, mas sim na Ribeirinha, onde foi construída a escola na Eira Salgada, segundo o Plano dos Centenários e que funcionou desde o final dessa década até meados dos anos noventa do século vinte. Em Outubro de 1959 a Câmara criou uma comissão encarregada de procurar terrenos para a construção das restantes escolas. Desconhece-se se terá sido esta comissão a propor a solução que a Câmara acabou por optar, quando adquiriu em Novembro de 1964 o terreno onde foi construída a escola, dita, dos Casais d’Além. O terreno com uma área de 3578m2, pertencia a Aires Vítor de Jesus e a sua esposa Isabel Gabriela Quintal e não só reunia as características necessárias para o número de salas pretendidas para a escola central da freguesia, como trazia um acréscimo de 500m2, oferta dos proprietários, para instalação da cantina. Curiosamente apesar da designação de Casais d’Além, reza a escritura que o terreno se localizava na Ribeirinha que neste processo se viu “roubada” de uma parcela do seu território. A escola foi inaugurada em Julho de 1969 e funciona desde então. No início do milénio sofreu obras que a fez perder as características e as linhas que a irmanava às outras dezenas construídas segundo o mesmo plano. Fernanda Nóbrega @ CAMACHA - camacha (weebly.com) [i] Batalha de Ourique em que segundo rezam as crónicas Afonso Henriques se declarou Rei de Portugal [ii] Manuel Fernandes 756m2, António de Gouveia Júnior 282m2 e Manuel Correia 812m2, João Correia 508m2.A Arquivo Regional e Biblioteca Pública da Madeira, Actas da Câmara Municipal de Santa Cruz SIPA- http://www.monumentos.gov.pt
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Abril 2024
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