História, histórias e curiosidades
Decorria o ano de 1858 quando Ana de Freitas, de sessenta e seis anos, sentindo-se doente, decidiu vender algumas propriedades que tinha em comum com o seu, ausente, marido José Vieira. Ana de Freitas nasceu em Gaula e veio morar para a Camacha aos vinte e um anos, quando casou com José Gouveia dos Salgados, em 1813. Em 1836 achando-se viúva, aos quarenta e quatro anos, casou com José Vieira, um mancebo do sítio da Igreja, de olho azul e cabelos loiros, com vinte e sete anos de idade. Viviam-se tempos conturbados no país e com a idade de trinta e três anos, José Vieira, com os seus 152cm de altura, foi mobilizado para assentar praça no Regimento de Infantaria nº 11, tendo seguido para o Reino, a fim de cumprir o serviço militar. Por lá ficou, na qualidade de soldado, até 1859, porém em Dezembro 1860, não tinha ainda regressado à Camacha, o que levou a que a sua mulher, dando-se por viúva, vendesse a terceira das suas propriedades. Aos vinte e sete dias do mês de Agosto de 1867 morreu Ana de Freitas , com a idade de setenta e cinco anos e é de Novembro desse ano que se tem notícia do regresso de João Vieira, num documento notarial no qual ratifica os três negócios feitos, na sua ausência, pela falecida mulher. João Vieira voltou a casar, em Janeiro de 1868, com Joana de Jesus, ele com a idade de cinquenta e nove anos, ela com cinquenta, e sete e daqui se lhe perde o rasto, podendo se presumir que o casal terá saído da Camacha. Esta é apenas uma breve história de um dos quarenta e cinco[i] jovens camacheiros que ao longo do século XIX e início do século XX foram chamados a servir o Reino, integrados em diversas unidades de Infantaria. Os primeiros foram integrados no Regimento de Infantaria nº 11 em 1837 e daí até 1907, para além de diferentes números de Regimento de Infantaria, foram integrados na Guarda Municipal de Lisboa, Regimento de Granadeiros da Rainha, Batalhão de Caçadores, Praça de S. Julião da Barra, Companhia de Correcção. O conjunto desta informação revela ainda algumas notas curiosas que nos permite criar uma imagem dos jovens de então. Com um altura média de 1,52m o grupo teve nos seus extremos Joaquim de Ornelas, um jovem recruta de dezanove anos com 1,42m, em 1839 e Francisco Ferreira, 18 anos, 1,72m, em 1855. Maioritariamente tinham olhos “pardos”[ii] e cabelos castanhos, ao que se juntavam um ou dois olhos azuis, esverdeados ou pretos e cabelos loiros e pretos. Todos eles foram apenas soldados, apesar de diversos terem prosseguido carreira militar durante alguns anos. Enquanto profissão foram na sua maioria lavradores, constando da lista também um sapateiro, dois criados de servir e um barbeiro. Fernanda Nóbrega @ CAMACHA - camacha (weebly.com) [i] Arquivo Histórico Militar [ii] Descrição física patente nos Livros Mestres - Arquivo Histórico Militar ABM – Notariais, Paroquiais imagem em - https://purl.pt/11767/3/e-805-a_JPG/e-805-a_JPG_24-C-R0150/e-805-a_0001_1_p24-C-R0150.jpg
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Abril 2024
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