História, histórias e curiosidades
No dia treze de Setembro de 1912 o Diário de Notícias[1] trouxe uma pequena notícia sobre, o que na altura foi, um grande acontecimento: "Un tour de force" Pela primeira vez um automovel faz viagem entre o Funchal e a Camacha. Hontem, pelas 11 horas da manhã, partíu do Funchal o automoveI n. 11 da nova Empreza de Automoveis, conduzindo os snrs. Hugo Krohn, João Pontes Leça e um empregado do primeiro d'estes senhores, com destino á freguezia da Camacha. Apóz pequenos incidentes, sem importancia, e vencidas todas as difficuldades, inherentes ao mau estado dos caminhos, o automovel n. 11, guiado magistralmente pelo chauffeur Adolpho Fernandes, chegou ás Achadas da Cruz,[2] ás 2 horas da tarde, regressando pouco depois ao Funchal. É a primeira vez que um automovel realiza semilhante precurso. Na época o percurso entre Camacha e o Funchal era feito maioritariamente a pé, pelos locais, a cavalo ou em carro de vime com tracção animal. Em 1912, a tabela de preços imposta pela Câmara Municipal do Funchal e publicada na imprensa regional, indica o custo de três mil reis[3] para uma viagem de ida ou de volta e de quatro mil reis para a viagem de ida e volta, num dos referidos carros de vime. Até que o uso de automóveis se generalizasse iriam passar muitos anos e quem foram os primeiros camacheiros a usufruir desse conforto, será objecto de um futuro artigo neste blogue. Fernanda Nóbrega @ CAMACHA - camacha (weebly.com) Automóveis de aluguer 1912. O número 11 que foi o primeiro automóvel a vir à Camacha, não se consegue distinguir, mas terá sido um destes. https://arquivo-abm.madeira.gov.pt/viewer?id=74633&FileID=663417
[1] Arquivo Regional e Biblioteca Pública da Madeira, Colecção de Jornais, Diário de Notícias [1] É provável que se trate de um lapso do Diário sendo o correcto Achada da Camacha [1] Apesar do escudo ter sido criado e imposto pelo decreto de 22-5-1911 ainda não tinha entrado totalmente nos hábitos da população
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Em finais dos anos 50, do século XX, um casal de turistas britânicos visitou a Camacha. A sua visita foi breve. “Armados” com uma câmara de 8mm captaram apenas alguns fotogramas da freguesia que, no entanto, constituem um precioso legado para nossa história. Nos breves segundos do seu filme amador reconheceremos pessoas e espaços. A obra de vimes – que se afirmou como atractivo turístico da Camacha – centrou a sua atenção, mas as searas de trigo, o casario da Ribeirinha/Eira Salgada e a Achada antiga mereceram um olhar ficando assim também registadas para a posteridade. Álvaro Nóbrega @ CAMACHA - camacha (weebly.com) No dia três de Setembro de 1874, uma quinta feira, o jornal A Voz do Povo trazia um comunicado que dava conhecimento de um abaixo assinado dirigido ao Bispo do Funchal, no qual era apresentada uma queixa formal contra o procedimento do Reverendo Pároco, que segundo os queixosos vivia em público e escandaloso concubinato e mancebia. Segundo o comunicado, o padre, na hora da missa, colocava a seu lado a sua concubina Leocádia “mulher que a todos insulta com palavras deshonestas, calumniando e muitas vezes com os seus testemunhos escangalhando casamentos”. E a dita Leocádia, já antes teria sido, por queixas dos paroquianos, afastada para o Funchal e o padre deslocado para outras freguesias. Mas passado algum tempo o padre voltara e voltara a “exercer os mesmos actos immoraes, sem que o castigo que recebera lhe servisse de emenda” Era, portanto, necessário acabar com o escândalo, não só para bem dos paroquianos mas também para a imagem da Camacha que “pela sua linda posição, clima e arvoredos, convida todos os anos, na estação calmosa, um grande numero de familias, e entre ellas alguns estrangeiros, que aqui veem de visita, e outros residirem alguns meses”. Com a agravante de que “frequentam esta freguezia numerosos protestantes, residem n’ella dois ministros anglicanos e nós catholicos e portuguezes cobrem-se-nos a faces de vergonha” Passados quinze dias, A Voz do Povo deu palavra a outro comunicado, desta vez em defesa do pároco. Contrariamente ao anterior, este inclui as mais de cem assinaturas de “proprietários e lavradores e mais habitantes da parochia de S. Lourenço, freguezia da Camacha vem... reclamar contra uma representação que alguem malevola e infundadamente formulou e conseguiu iludir certos individuos a assignar e até firmando-a com nomes de pessoas que tal não autorizarão... acusando este sacerdote de faltas que não commette”. Para além de enaltecerm as qualidades do pároco, afiançam também que “capta a estima e consideração dos forasteiros distintos que visitão ou veem residir a esta localidade, pela sua ilustração e afabilidade”. Ficou assim limpo o bom nome do Padre Christiano Augusto Machado que se manteve na freguesia até 1891. Da Leocádia, nada mais se soube. Fernanda Nóbrega @ CAMACHA - camacha (weebly.com) Abm.madeira.gov.pt/media/publicacoesPeriodicas/Jornais/VozDoPovo(A)/PT-ABM-COLJOR_18740917.pdf
A Achada da Camacha tornou-se conhecida e é referenciada por neste local se ter jogado futebol pela primeira vez em Portugal. Contudo não foi só futebol que ali se praticou. Os britânicos, que a partir da primeira metade do século dezanove foram se instalando na Camacha, adquirindo propriedades ou alugando casas para passar a temporada do Verão, adoptaram a Achada como seu campo de jogos. E, muito antes do futebol, o seu jogo de eleição foi o cricket. Numa carta, datada de Janeiro de 1859, o remetente pergunta à mãe se o irmão, Archy, participou no jogo de cricket na Camacha ou se terá sido apenas um espectador[1]. Por aqui se depreende, não só a antiguidade da prática na Camacha como de certa forma também a sua popularidade entre os britânicos residentes na Madeira. Contrariamente ao futebol, o cricket não cativou nem passou para a comunidade local. Apesar de o Excelcior Cricket Club contar com alguns nomes portugueses, este era um jogo praticado maioritariamente por britânicos. Até 1894 encontram-se ocasionalmente na imprensa regional anúncios de jogos a disputar ou disputados na Achada da Camacha. Solteiros contra casados, madeirenses[1] contra visitantes, essencialmente de barcos que por cá passavam e pelo menos dois clubes: o atrás referido Excelcior e o Madeira Cricket Club. Em Março 1894, o clube Excelcior nivelou e relvou um campo em S. Martinho e a partir dessa data os jogos foram deixando de se realizar na Camacha. ilustração da época, por volta de 1840[1]
Fernanda Nóbrega @ CAMACHA - camacha (weebly.com) [1] www.liveborders.org.uk, Heritage Hub, Kirkstile, Hawick, TD9 0AE [2] Britânicos nascidos ou residentes na Madeira [3]https://books.google.pt/books?id=sayps__du6cC&dq=cricket%20print&hl=pt-PT&pg=PP9#v=onepage&q&f=true [4] Arquivo Regional e Biblioteca Pública da Madeira- Colecção de Jornais |
Autores Somos vários a explorar estes temas e por aqui iremos partilhar o fruto das nossas pesquisas. O que já falámos antes:
Abril 2024
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