História, histórias e curiosidades
Infelizmente nem os nossos antepassados nem os visitantes que por aqui passaram, nos deixaram testemunhos escritos que elucidem quanto a diversos aspectos da vida na Camacha de outrora. Uma dessas faltas de informação recai sobre a forma como os camacheiros tratavam os problemas relativos à saúde, mais especificamente onde adquiriam os remédios para as suas maleitas.
A tradição oral reteve algumas receitas das mezinhas caseiras e, até por analogia com o que se verificava no resto do país, podemos deduzir que a maioria da população assim se trataria. A aguardente com que se lavavam as feridas, o vinho e o pão com que se faziam os pensos para cobri-las (vide O caso da Camacha), naturalmente, podiam ser adquiridos em qualquer "venda". A primitividade destes recursos não se traduzia, contudo, na recusa de tratamentos com base no conhecimento científico, como pôde testemunhar um cidadão inglês, num Verão que aqui passou, e do qual fez um relato publicado na Blackwood's Edinburgh Magazine em 1888: “Lembro-me dos domingos bem passados, um inglês gentil e amigo dos pobres, assistido por um médico inglês, para quem era uma festa, e por senhoras inglesas, a vacinar os aldeões em massa, quando a varíola afectava o Funchal. Era uma cena estranha— uma multidão de crianças de olhos escuros e bronzeadas, com as suas mães, ainda mais bronzeadas, reunida debaixo dos castanheiros— as crianças muito relutantes, arrastadas ou carregadas para o local da execução e felizes por de lá regressar com os seus membros completos. Os homens, com a sua pose de adulto masculino indiferente à dor, dificilmente disfarçavam os seus terrores”. Apesar da abertura em aceitar formas de tratamento, para além daquelas que aprendiam por tradição, nada indica que tenha existido uma botica, entre os cerca de trinta estabelecimentos comerciais da Camacha, no final do século dezanove e dos quais se tem algum conhecimento através das licenças emitidas pela Câmara de Santa Cruz. Quando, por imposição legal, a Câmara de Santa Cruz contratou, em 1900, um médico que servisse a população, fazia parte das condições do concurso que esse médico possuísse uma botica, mas uma vez que estava sediado no Caniço, a Camacha não beneficiou directamente desse serviço. (vide Centro Sanitário ) Segundo a acta da sessão da Câmara Municipal de Santa Cruz, em vinte e dois de Outubro de 1902, por essa data um médico teria fixado residência na Camacha, onde atendia doentes e possuía uma pharmacia. O médico foi Alfredo Maria Figueira, natural da Boaventura e que por aqui exerceu, tanto quanto se conseguiu apurar, até a década de vinte. Contudo nada mais se conseguiu saber, nomeadamente onde ficaria localizada a sua residência e local onde exercia. Só se volta a encontrar uma farmácia na Camacha em 1960, quando a Farmácia do Caniço abriu um “posto de dispensa de medicamentos”[i]. Esta sucursal funcionou até o ano de 1994, coexistindo desde 1982 com a Farmácia da Camacha que é a que se mantém até hoje. Fernanda Nóbrega @ CAMACHA - camacha (weebly.com)
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Abril 2024
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