História, histórias e curiosidades
A primeira camacheira a colher as flores do seu jardim e a se pôr a caminho do Funchal, para as vender, com certeza nunca imaginou que com essa decisão estaria a lançar uma actividade que faria das suas seguidoras as “madeirenses mais fotografadas do mundo”, como as classificou o Diário de Notícias, num artigo em Julho de 1972[i]. Como já aqui antes referido (Vede Vendedeiras de Flores ) eventualmente essa actividade poderá ter nascido a meados do século XIX, tendo algumas camacheiras substituído a venda de lenha pela de flores. No entanto o suporte documental tem se revelado demasiado parco, para tal se afirmar com toda a certeza. Nas fotografias do Funchal, a partir do final do século XIX, encontram-se diversas que retratam mulheres a venderem flores e apesar de não estarem identificadas como camacheiras, existem outros indícios que nos permitem considerar que efectivamente o seriam. O Diário da Madeira, em Julho de 1913, dava conta numa pequena notícia que “Rufina de Jesus, natural da Camacha, apresentou hontem de manhã queixa no commissariado contra dois individuas que lhe roubaram um ramo de flôres e depois lhe applicaram um sõcco”, o que nos leva a supor que Rufina seria uma vendedeira de flores. Já o artigo no Diário de Notícias, em Setembro de 1929, não deixa margem para dúvidas com o seu apelativo subtítulo “APARECERAM AS PRIMEIRAS VIOLETAS NOS CESTOS DAS «CAMACHEIRAS»”. Conquanto fosse um artigo sobre a chegada do Outono, mereceu destaque o “já é uma nota alegre o cesto da Camacheira que ao sábado nos traz à porta a frescura das flores da sua região”. O artigo de Julho 1972 fornece, também, alguns testemunhos de interesse, nomeadamente o da octogenária que disse exercer a profissão há quarenta anos e que ”quando eu vim vender flores já havia velhinhas nisto! Mas não era aqui! Vendia-se pelos hotéis p’ra lá e pelas portas”. Outra das entrevistadas referiu que “já sou floreira desde os oito anos! Tenho quarenta e seis!”. O artigo não refere nomes das entrevistadas, apenas refere que são naturais da Camacha. Embora os testemunhos escritos sejam poucos a continuidade e prevalência da actividade, até os dias de hoje, fazem desta imagem de marca da Madeira um feito camacheiro, sem esquecer contudo a norma camarária imposta por Fernão de Ornelas[ii] que obrigou ao uso do traje regional, o que contribuiu fortemente para impor a imagem sui generis com que se impôs e a fez sobreviver ao longo dos tempos. Fernanda Nóbrega @ CAMACHA - camacha (weebly.com) [i] Título do artigo do Diário de Notícias em Julho 1972 da autoria de Luiz Rodrigues e Lurdes Fernandes
ABM – Colecção de Jornais [ii] A 17 de Dezembro de 1936 foi publicada uma Postura sobre vendedeiras ambulantes de flores- A Obra de Fernão Ornelas-MestradoAgostinho Lopes PDF | PDF | Portugal | República (scribd.com) *Foto-Flower seller, Funchal, Madeira, 20th century by Unbekannt (meisterdrucke.uk)
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Abril 2024
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