História, histórias e curiosidades
Em 26 de Maio de 1937 decorreu, no salão Nobre dos Paços do Concelho do Funchal, um concurso promovido pela Comissão Administrativa da Câmara do Funchal. Tratou-se de escolher a florista que, de entre as muitas que circulavam pelo Funchal, melhor representasse os ideais impostos pelo concurso, sendo o factor de exclusão o limite máximo de trinta e cinco anos de idade. A eleita receberia um prémio no valor de mil escudos. Os jornais da época estiveram presentes no evento, tendo o Diário de Notícias publicado uma descrição mais alargada: “Festa simples, mas encantadora, alegre e vivificante. Ia realizar-se o anunciado concurso entre as vendedeiras de flôres. Camacheiras na sua grande maioria, caniceiras as outras, todas elas se apresentaram com os fatos com que, pelas ruas, em dias de movimento turístico exercem o seu mister. No entanto à nota de beleza e de colorido dos trajes e das flôres faltou um pormenor- podemos dizer o mais interessante- a mocidade ingenus, alegre e preparada para a função que às vendedeiras de flores cumpre desempenhar adentro do movimento turístico e cultural da nossa terra... Cerca das 16h30 estando presentes algumas dezenas de vendedeiras de flôres reuniu-se o juri no salão nobre... o prémio pecuniário de mil escudos foi atribuído em partes iguais às seguintes cinco floristas: Helena de Aguiar, de 26 anos, do sítio do Vale Paraizo, Camacha; Maria José de Goes, de 22 anos, Nogueiras, idem; Rosa Baptista, 27 anos, Nogueiras, idem; Adelaide Fernandes, 25 anos, Abegoaria, Caniço e Maria de Andrade, 31 anos, sítio das Nogueiras, Camacha. A concorrente Rosa de Aguiar, do sítio do Rochão, Camacha, teve um voto de louvor por se ter apresentado com o traje mais completo e dentro do rigor da tradição... Antes de se retirarem as premiadas num gesto de delicadeza- simples e cativante- foram aos seus açafates e tiraram lindos ramos de cravos e outras flôres, ofertando-os ao ilustre Presidente da Câmara. “ Desconhece-se quando exactamente terão as mulheres da Camacha começado esta actividade, de vender flores pelo Funchal. Sabe-se que os jardins camacheiros foram muito inculcados pela forte presença inglesa, a partir da segunda década do século dezanove. Foi essa influência que aumentou substancialmente a variedade de flores e incentivou o gosto pelo seu cultivo, entre a população local. Também se conhecem diversos documentos fotográficos, do início do século vinte, onde se podem observar mulheres a vender flores nas ruas do Funchal e que se pode presumir serem oriundas da Camacha, se atendermos à realidade descrita em 1937. José Marciano da Silveira, na sua Voz do Povo em Fevereiro de 1874, faz uma referência às camacheiras no mercado que sugere a possibilidade de nessa altura as mulheres da Camacha dedicarem-se já a essa actividade: “Do nosso amigo Tripancio Uma poesia hoje li A’ cerca lá no mercado: Achei-lhe graça e sorri; Aquelle estro sublimado Por todos é admirado Em nome das camacheiras Venho-lhe hoje agradecer O seu mimoso elogio Alcançado sem merecer; Na verdade são florinhas As lindas camacheirinhas” Contudo, sem mais documentos e nomeadamente sem o citado poema do Tripancio[i], que até o momento não foi possível localizar nenhum exemplar, tal hipótese carece de confirmação. Fernanda Nóbrega @ CAMACHA - camacha (weebly.com) [i] Pascoal Tripancio publicava no Jornal a Lâmpada (1872-1874)- ABM
II -Arquivo Regional e Biblioteca Pública da Madeira, Colecção de Jornais, Diário de Notícias, Voz do Povo.
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