História, histórias e curiosidades
Não sendo um dos motivos que lhe deu notoriedade, acabam por ser surpreendentes os cinco mil e setecentos quilos de lenha que a Camacha ofereceu à Santa Casa da Misericórdia, no dia 1 de Novembro de 1948. Nesse dia decorreu no Funchal, mais precisamente na Avenida do Mar, um Cortejo de Oferendas, organizado pela Comissão Distrital de Assistência que contou com a participação de todas a freguesias da Madeira e Porto Santo, num total de sessenta e três viaturas e a participação de diferentes associações culturais e civis. A Camacha apresentou-se com duas viaturas, nas quais seguiam os referidos quilos de lenha e ainda obra de vimes, produtos da terra e galinhas. No rol de oferendas a única referência a lenha pertence à Camacha, o que nos leva a pensar que esta era, por esta época, uma actividade ainda com relevante importância, não só na freguesia como, eventualmente, no todo da ilha. Olhando mais atrás no tempo vão-se encontrando menções a Serra d’Água, situada abaixo da levada do Pico do Arvoredo e ao que tudo aponta no Rochão, indicativas de actividades madeireiras. Mais explicito que isso, é a descrição do Bispo de Meliapor, em 1813, já aqui antes apresentada, mas que vale sempre a pena relembrar: “O povo da Camacha emprega-se em levar cargas de giesta e lenha para a cidade. Vão à serra sem o embaraço do gelo no Inverno ou do grande calor no estio e na alta noite caminhão à cidade vender aquelles molhos de lenha que regulam de 260 a 400 rs cada um, segundo a sua grandeza e qualidade”[i] No relatório apresentado ao Governador da Madeira, em 1945, por Aires Victor de Jesus, na qualidade de Presidente da Câmara de Santa Cruz, é feita alusão a uma prática antiga na parte alta da Camacha, de intercalar a produção de giesta com o plantio de trigo e centeio, aproveitando o facto de a giesta, depois de ser cortada, para lenha, voltar a crescer graças às sementes que ficavam na terra. Aires Victor de Jesus gabava a qualidade dessa lenha e recomendava a adopção dessa prática para todo o concelho. Entre as duas épocas, atrás referidas, apenas se encontraram, poucas e pequenas, referências, essencialmente pedidos de licença para cortar castanheiros e carvalhos, no Vale Paraíso e Rochão, sem discriminar, contudo, o destino dessas madeiras. Da tradição oral, ficou-nos a cantiga: As meninas da Camacha Quando não tem que fazer Vão à serra buscar lenha E vão prà cidade vender Fernanda Nóbrega @ CAMACHA - camacha (weebly.com) [i] ALMEIDA, Eduardo de Castro e, Archivo de Marinha e Ultramar, inventário: Madeira e Porto Santo, Coimbra 1909. Vol.II, doc.12465, p.333
Arquivo Regional e Biblioteca Pública da Madeira, Colecção de Jornais Arquivo Regional e Biblioteca Pública da Madeira, Actas da Câmara Municipal de Santa Cruz
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Abril 2024
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