História, histórias e curiosidades
Perfazem amanhã oitenta e três anos que a Camacha viveu um dia ímpar. Apesar de habituada, desde meados do século dezanove, a um constante vaivém de forasteiros, a horda que a invadiu nesse dia terá despoletado, com certeza, um conjunto de reacções e emoções diversas e dificilmente alguém terá ficado indiferente ao alvoroço que aqui se gerou. Um grupo de madeirenses, contra o Governo, pretendia tomar de assalto o Funchal, tendo-se reunido logo pela manhã na Camacha e estabelecido o seu quartel-general no Hotel. Informadas da situação, as forças da ordem compostas pelo Exército, Legião Portuguesa e Polícia de Segurança Pública, trataram de enviar um grupo de agentes, a fim de fazer o levantamento da situação. Pelas oito da manhã chegaram à Camacha vinte guardas da brigada de choque da PSP, oito polícias sinaleiros e mais três guardas em motocicletas. Ao se aperceberem da gravidade da situação enviaram, por pombo correio, uma mensagem para o Comando a pedir a intervenção de uma força maior. Foi solicitada a intervenção do corpo de voluntários da Legião Portuguesa que distribuídos por seis camiões, avançaram para suprimir a acção dos revoltosos. Ao chegarem a S. Gonçalo dividiram as forças, tendo um grupo seguido pelo Palheiro Ferreiro e outro pelo Caniço. Nas proximidades do cemitério foi montando um posto de comando e junto ao mesmo um posto de comunicações, composto por rádio, para comunicação com o comando no Funchal e bandeiras para comunicação com os diversos postos instalados ao longo da estrada Engenheiro Abel Vieira, até à Achada do Caniço. Entretanto os revoltosos, ao se aperceberem da resposta das forças governamentais, prepararam a sua resistência espalhando-se pelos terrenos contíguos ao Hotel, tendo-se trocado os primeiros tiros com as forças policiais que tentavam suster a situação, enquanto não chegavam os legionários. A partir dos diversos postos, os legionários foram avançando em direcção à Achada da Camacha, por forma a cobrir todos os eventuais pontos de fuga. Ao chegarem à Achada e em conjunto com a força policial, lançaram um forte ataque final, protegidos por nuvens de fumo lançadas pela polícia. Segundo o Diário de Notícias do dia seguinte “Esta fase do exercício foi a mais emocionante chegando a electrizar a numerosa assistência, que, seguia com entusiasmo as fases diversas da luta”.[i] Com a forçosa e inevitável rendição dos revoltosos, terminou pelas onze horas o primeiro grande exercício do batalhão 60 da Legião Portuguesa, num típico dia de Inverno camacheiro em que a chuva, o frio e o vento vieram acrescer dificuldades aos cerca de trezentos e sessenta participantes. Para finalizar houve ainda lugar a um almoço, composto por sardinhas em lata, espetada, pão, bananas e vinho, servido aos legionários e ao corpo de polícia ao ar livre na Achada e nas instalações da Casa do Povo, às chefias e demais entidades. Pelas 14h30 o corpo de legionários formou para desfilar em continência perante as entidades e dessa forma saiu da Achada seguindo a pé até o Funchal. À Camacha terá regressado a costumeira placidez, depois desta atribulada manhã de Domingo que terá quebrado as rotinas e alimentado conversa para muitos dias. Fernanda Nóbrega @ CAMACHA - camacha (weebly.com) [i] Arquivo Regional e Biblioteca Pública da Madeira, Colecção de Jornais, Diário de Notícias, Diário da Madeira
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Abril 2024
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