História, histórias e curiosidades
Ao longo do século dezanove a Camacha popularizou-se entre os britânicos que a adoptaram como a sua estância de Verão. E por esse facto, encontram-se com alguma facilidade diversas descrições e menções em diários de viagens, jornais e outros tipos de documentos escritos.
A visita de estrangeiros de outras nacionalidades era menos frequente, mas também acontecia, como testemunha o relato de Luis de Ville[i] publicado nos “Annales des voyages”[ii] , da Sociedade de Geografia de Paris, em Janeiro de 1869. "...Nós deveríamos partir às sete horas da manhã, tomar o pequeno-almoço em casa do senhor d’Ornellas ... Apesar da incerteza do tempo, toda a gente foi pontual e seguimos rapidamente o caminho do Palheiro. Uma hora após a nossa partida chegámos à entrada do parque e meia hora depois descíamos dos cavalos em frente à casa do senhor d’Ornellas. Tínhamos vindo sempre a galope, excepto nas descidas difíceis que fazíamos a passo. Não nos preocupámos em admirar a paisagem, que de resto é soberba ao longo deste percurso que nós já tínhamos feito por diversas vezes. Os caminhos são de tal forma estreitos que apenas podem seguir dois cavalos a par... Mas o nosso anfitrião veio nos receber e com amável cordialidade fez-nos as honras de sua casa. A casa parecia-se com todas as outras que nós já tínhamos visitado na Madeira. Não é contudo, fora de propósito fazer uma descrição sumária, porque não terei outra ocasião de o fazer. Estas casas de campo têm o mesmo aspecto que as casas dos ingleses na India. Todas elas têm uma varanda guarnecida de plantas trepadeiras. Entrámos em diversas grandes salas onde encontrávamos uma lareira acesa. O que nos pareceu muito bem-vindo, porque tínhamos deixado a Primavera no Funchal e encontrámos o Outono na Camacha. Nós tínhamos andado junto à costa e agora estávamos numa montanha a 700 metros acima do nível do mar. É fácil gozar os incómodos do Inverno sem sair da Madeira, basta subir aos montes mais altos... nós que somos demasiado cautelosos para ter essa tentação preferimos simplesmente ir para a sala de jantar onde estava posta uma mesa, carregada de laranjas, peras, maçãs, bananas e ananases, enfim com todas estas deliciosas frutas colhidas na Madeira. O anfitrião, numa delicada atenção por nós, os franceses, ofereceu-nos taças cheias de Bordéus e peru trufado . Também saboreámos a cozinha portuguesa com apetite e não desprezámos, nem o Sercial nem o Malvasia. Estes respeitáveis vinhos contavam na verdade com mais de quarenta anos. Esta refeição de montanha pareceu-nos muito adequada e digna de ser servida numa velha porcelana do Japão que muito admirámos. Sobre este assunto o nosso anfitrião, com um pudor de bom gosto, explicou que o antigo serviço que parecíamos apreciar, era um resquício do antigo esplendor português. Parece de facto que a família dos Ornellas adquiriu este precioso serviço durante o século XV, ou seja, na época em que Portugal estendeu o seu império sobre a África e as Índias. Menos amável que o nosso anfitrião veio a chuva perturbar a nossa festa batendo, violentamente nas vidraças da sala de jantar. Teríamos que desistir da ida a Machico. Decidimo-nos acendendo um Havano e depois entre duas rajadas seguimos pelo caminho que ladeia a Ribeira...” tradução: Fernanda Nóbrega @ CAMACHA - camacha (weebly.com) LES ENVIRONS DE FUNCHAL DANS L ILE DE MADÈRE Luis de Ville 1867 “On devait partir à sept heures du matin déjeuner à Camacha chez M d Ornellas luncher à Santa Cruz et diner à Funchal vers sept heures du soir Malgré l incertitude du temps tout le monde fut exact au rendez vous et nous gravimes rapidement le chemin du Palhiero Une heure après notre départ nous arrivions devant la porte du parc une demiheure plus tard nous descendions de cheval devant la résidence champêtre de M d Ornellas Nous étions venus toujours en galopant dans les montagnes n allant au pas que dans les descentes difficiles on ne paraissait guère se préoccuper du paysage du reste assez peu remarquable le long de cette route que nous avions tous parcourue plusieurs fois Les chemins sont tellement étroits que deux chevaux seulement peuvent marcher... Mais notre hôte vient nous recevoir el avec une aimable cordialité nous fait les honneurs de son habitation Elle ressemble à loutes les autres que nous avons depuis visitées à Madère Il n est donc pas hors de propos d en donner une sommaire description qu il n y aura du reste plus lieu de répéter Ces maisons de campagne présentent le même aspect que celles båties par les Anglais dans l Inde Elles sont précédées d une verandah garnie de plantes grimpantes On pénètre dans plusieurs vastes pièces où nous trouvons un grand feu allumé Il nous semble le bienvenu car nous avons laissé le printemps à Funchal et nous trouvons l automne à Camacha Nous nous promenions tout à l heure sur le rivage de l Océan et maintenant nous nous trouvons sur une montagne à plus de 700 mètres au dessus du niveau de la mer Voulez vous éprouver les désagréments de l hiver voilà qui est facile sans quitter l île de Madère il vous suffira de parvenir à la cime des sommités les plus élevées ... Nous qui sommes trop frileux pour avoir cette tentation nous préférons tout simplement passer dans la salle à manger où le couvert se trouve mis La table est chargée d oranges de poires de pommes de bananes et d ananas enfin de tous ces délicieux fruits cueillis à Madère Notre hôte par le attention délicate pour nous autres français nous offre le Bordeaux à pleine coupe et la dinde truflée qu expédia Chevet Nous goûtons aussi avec appétit la cuisine portugaise et ne dédaignons ni le bouquet du serciol ni celui du Malvoisie Ces respectables vins comptent il est vrai plus de quarante années de bouteille Ce repas de montagnard nous semble très convenable et bien digne d être servi dans une vieille porcelaine du Japon que nous admirons fort A ce sujet notre hôle avec une modestie de bon goût veut bien dire Ce vieux service que vous paraissez si fort apprécier est un reste de l ancienne splendeur portugaise Il parait en effet que la famille de Ornellas fit l acquisition de ce précieux service pendant le xv siècle c est à dire à l époque où le Portugal étendail son empire sur l Afrique et les Indes Moins aimable que notre hôte la pluie vient troubler notre festin en frappant avec violence les vitres de la salle à manger Il faudra renoncer à franchir les montagues qui nous séparent de Machico On en prend son parti en allumant un cigare de la llavane puis entre deux bourrasques on se rend sur le chemin qui borde la ravine de la Ribiera “
0 Comments
Leave a Reply. |
Autores Somos vários a explorar estes temas e por aqui iremos partilhar o fruto das nossas pesquisas. O que já falámos antes:
Abril 2024
Categories |