História, histórias e curiosidades
Que a indústria artesanal de obra de vimes teve um papel de grande relevância no desenvolvimento da Camacha, é um facto sobejamente conhecido de todos. Em relação ao seu início na localidade surgem diferentes teorias. Segundo uma, teria sido um camacheiro que teria aprendido a arte, enquanto estivera preso na cadeia do Funchal. A outra atribui todo o mérito a um António Caldeira que teria estudado e reproduzido uma esteira que alguém, pertencente à família Hinton[i], teria trazido do estrangeiro. Se bem que sejam concordantes em relação ao período temporal, situando os inícios em meados do século dezanove, carecem ambas de documentos que as comprovem e as contextualizem na vida e sociedade de então. Presume-se que o desenvolvimento da indústria se tenha sustentado numa prática ancestral de cestaria, contudo nada se encontrou até agora que sugira a existência dessa actividade como fonte de subsistência. Aquando da sua visita à Camacha em 1813, Don Frei Joaquim de Meneses e Ataíde, Bispo de Meliapor, deixou-nos um testemunho sobre as principais actividades económicas e, para além da espectável agricultura, o ganha-pão dos camacheiros nada tinha a ver com vimes, como se constata na transcrição que aqui se apresenta: “O povo da Camacha emprega-se em levar cargas de giesta e lenha para a cidade. Vão à serra sem o embaraço do gelo no Inverno ou do grande calor no estio e na alta noite caminhão à cidade vender aquelles molhos de lenha que regulam de 260 a 400 rs cada um, segundo a sua grandeza e qualidade... As mulheres trabalham como os homens e o mais é que as raparigas de 15 e 16 anos vão à serra cortar matto e carregando-o à cabeça levam-no à cidade como os homens”[ii]. Apenas pelas últimas décadas do século dezanove se começam a encontrar diversas referências a “mestre de obra de vimes”, “oficial de obra de vimes”, “ terrenos de vimes” que evidenciam a importância crescente da actividade. Essa relevância também se infere num artigo do Diário de Notícias, em Agosto de 1893 que numa análise à recente e crescente indústria das obras de vimes, destaca que “A freguesia da Camacha é onde mais e melhor se executam obras de vimes... há alli indivíduos que trabalham explendidamente n’estas obras; entre os que conhecemos pelos seus nomes recordam-nos os senhores Teixeira e Barreto, dois dos mais insignes n’este trabalho” Curiosamente, o autor do artigo já então defendia a necessidade de formação de artesãos e adequação dos modelos “ao gosto moderno”. Fernanda Nóbrega @ CAMACHA - camacha (weebly.com) [i] RODRIGUES, António, Catálogo da exposição “Obra de Vimes” Casa da Cultura de Santa Cruz , 2000 [ii] ALMEIDA, Eduardo de Castro e, Archivo de Marinha e Ultramar, inventário: Madeira e Porto Santo, Coimbra 1909. Vol.II, doc.12465, p.333 Arquivo Regional e Biblioteca Pública da Madeira, Colecção de Jornais
0 Comments
Leave a Reply. |
Autores Somos vários a explorar estes temas e por aqui iremos partilhar o fruto das nossas pesquisas. O que já falámos antes:
Abril 2024
Categories |