História, histórias e curiosidades
Desconhece-se em absoluto a posição dos camacheiros relativamente à questão que se viveu no país e na Madeira na segunda e inícios da terceira, décadas de 1800. D. Miguel ou D. Pedro? Para que lado se inclinavam as preferências dos camacheiros é uma incógnita que, provavelmente, ficará sempre por esclarecer. Nem nos poucos jornais da época, nem em documentos oficiais, se encontram informações ou sequer indícios que elucidem nesse sentido. As actas das sessões da Câmara de Santa Cruz nada deixam transparecer. Inclusivamente no período mais crítico da invasão da facção miguelista, que desembarcou em Machico em Agosto de 1828 e veio se impor vencedora em toda a Madeira, as actas foram riscadas de tal forma que nada se consegue ler. Curiosamente foi na imprensa estrangeira que se encontrou primeiro alguma informação, não propriamente sobre a opinião dos camacheiros a propósito da questão, mas sobre aquilo que se passou na Camacha e que naturalmente terá afectado o pacato decorrer da bucólica localidade. O jornal London Evening Standard[i] de 24 de Setembro de 1828 publicou um artigo intitulado Lisbon Papers Official, o qual era uma tradução integral de um ofício do comandante da expedição miguelista enviada à Madeira, José António de Azevedo Lemos, remetido ao Estado Maior General, a dar conta do sucesso da diligência. No que diz respeito à Camacha sabe-se por este documento[ii] que José Lúcio Travassos Valdês, então governador, sendo fiel a D. Pedro e aos princípios Liberais, instalou nesta localidade parte das defesas, com o objectivo de bloquear o acesso das tropas invasoras ao Funchal. Segundo o testemunho do comandante invasor seriam “hum obuz no Palheiro do Ferreiro, tres peças (três canhões) no sitio da Camacha, lugares contíguos, com huma força de Infantaria, e que me esperavâo naquelles desfiladeiros”. O Southern Reporter and Cork[iii], jornal irlandês, na sua edição de 27 de Setembro trouxe um artigo que intitulou “Surrender of Madeira” no qual relata que Valdez, entalado entre os invasores e a facção miguelista em terra, optou por instalar o seu quartel-general na Camacha, com as ditas três peças de artilharia e cerca de mil homens de infantaria. Apesar de todo o aparato não chegou a ocorrer qualquer confronto dado que “então os rebeldes conhecendo, que hião ser cortados, começarão a retirar-se com as peças de campanha, puchadas a bois, não obstante o que continuei a marcha tomando o caminho que elles occupavão”. Fosse qual fosse a inclinação política dos camacheiros à época, com certeza ninguém há-de ter ficado indiferente a esta situação e terão vivido dias de sobressalto e inquietação. À falta de indícios, resta-nos a imaginação. Fernanda Nóbrega @ CAMACHA - camacha (weebly.com)
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Abril 2024
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