História, histórias e curiosidades
Numa terra tão profícua no que diz respeito à preservação da cultura popular, particularmente no que concerne à criação e manutenção de grupos de folclore, é de certa forma frustrante não encontrar documentos que testemunhem aquilo que a tradição oral soube preservar. O poema de José Marciano da Silveira, publicado na Voz do Povo em 1860 (vide Poema à Camacha ) para além de nos testemunhar as práticas do Imperador e Saloias associados à festa do Espirito Santo, cria-nos também uma imagem do “povo em romarias” que nos remete inevitavelmente para as danças e cantares populares. Já mais para o final do século, vimos encontrar em 1892 no Diário de Notícias, numa crónica de Luiz d’Ornelas Pinto Coelho sobre a Camacha, uma nota relacionada aos grandes arraiais de Agosto que, também sem objectivamente descrever, induz-nos a visualizar grupos a tocar, dançar e a cantar ao desafio: “As festas d'esta natureza são a unica nota alegre, quebrando a monotonia do viver campezino, o pretexto exclusivo das reuniões publicas que approximam, divertindo-os, os indivíduos de ambos os sexos- e portanto não admira que o povo tenha a maior predilecção por taes festividades, mesmo independentemente do sentimento religioso”. Em 1894 o mesmo autor relata no mesmo jornal, numa descrição dos arraiais na Achada da Camacha: “Ver esta planice em dias de arraial, coberta de romeiros, de vehiculos de transporte, de ranchos festivos, dançando e cantando ao som de instrumentos na alacridade característica dos costumes populares, é d’ um effeito surprehendente, d’um pittoresco admiravel”. Se bem que o autor não identifique a origem dos referidos ranchos, pode-se presumir com alguma certeza que alguns destes grupos seriam locais. É já em pleno século vinte, em Maio de 1920 que uma notícia[i] a anunciar a Festa do Espírito Santo na Camacha, alude directamente a um desses, muitos, agrupamentos que ao longo da nossa história se juntaram e ensaiaram para “brincar” em eventos esporádicos. “Consta que este ano será maior a concorrência aquela pitoresca estância, pois aIem dos bazares que costuma ali haver, reina grande entusiasmo entre alguns rapazes e raparigas daquela freguezia nos ensaios dos chamados bailinhos que se efectuarão nesses dias na Achada daquela freguezia “ Em 1948 a constituição do Grupo Folclórico da Casa do Povo veio impor um novo patamar. Distinto dos agrupamentos de familiares e vizinhos que ao longo dos tempos foram assegurando, nas suas existências efémeras, o passar da tradição, este grupo assegurou a sua continuidade ao criar uma estrutura devidamente organizada que lhe permitiu sobreviver ao longo destes seus, já honoráveis, 74 anos. Porque a alma da população camacheira é maior que o seu espaço geográfico, a partir da década de sessenta foram nascendo os outros grupos, devidamente organizados, que alimentam a manutenção das nossas tradições: Grupo Folclórico Infantil da Camacha, Grupo Folclórico Juvenil da Camacha, Grupo de Folclore do Rochão, Grupo Romarias Antigas do Rochão e Grupo Romarias e Tradições. Fernanda Nóbrega @ CAMACHA - camacha (weebly.com) [i] Arquivo Regional e Biblioteca Pública da Madeira, Colecção de Jornais, Diário de Notícias
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Autores Somos vários a explorar estes temas e por aqui iremos partilhar o fruto das nossas pesquisas. O que já falámos antes:
Abril 2024
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