História, histórias e curiosidades
Agosto é o mês dos arraiais e na Camacha é tido por certo que no último Domingo do mês é a festa do Santíssimo Sacramento. Mas nem sempre foi assim. Em 1862 festejou-se em vinte e dois de Julho, em 1872 em quatro de Agosto, em 1878 passou para vinte do mesmo mês. Na década seguinte andou por Setembro e nos anos noventa regressou ao final de Agosto. Não se sabe quando terá surgido o Cortejo do Fogo, mas numa notícia do Diário de Notícias, de vinte e oito de Agosto de 1896, pode-se constatar que então já se fazia algo semelhante “Consta-nos que se fazem grandes preparativos para esta Festa, que é uma das mais apreciadas dos habitantes da localidade, e concorrida pelos povos das freguezias circumvisinhas, Tocará no arraial a philarmonica Recreio dos Lavradores, depois de ter acompanhado, no sábado, o fogo d'artificio desde a freguezia de S. Martinho até a da Camacha... Arcos de verdura e bandeiras decoram o trajecto da procissão, e o frontespicio do templo será profusamente illuminado” Entrou-se no século vinte celebrando esta festa com “desusado esplendor”[i] e nem a guerra, que tanto afligiu os camacheiros, quebrou o ímpeto ao arraial, aproveitando-se a afluência de visitantes para socorrer os que passavam por dificuldades: “Por occasião d' esta festa, que se effectuará com muito luzimento, haverá um bazar nas immedilações do templo, cujo producto reverterá a favor dos pobres pella Conferencia de S. Vicente de Paulo d'aquella freguezia.”[ii] Em 1923 a festa conheceu outro fulgor com “iluminação a focos eléctricos, fornecida pela fabrica de electricidade do senhor Frederico Rodrigues”[iii] tanto no adro como na Achada, uma realidade que só a meados do século se iria vulgarizar no resto da ilha. A festa decorreu a expensas da Confraria do Santíssimo Sacramento, então dirigida por Manuel Plácido de Freitas e Pedro Laxarte. Uma vez que esta confraria não surge na lista de confrarias legalizadas na Madeira em 1912, pode-se inferir que terá sido criada ou recriada depois dessa data. Desconhece-se a data da criação da primeira Confraria do Santíssimo Sacramento contudo sabe-se que já existia em 1787 através de uma petição dirigida à rainha D. Maria I. Nessa petição o Reitor, António Correia Jarves de Attoguia[iv], residente no Funchal e o Tesoureiro, António Teixeira residente em Igreja Camacha, pediam quatro arrobas de cera e trinta e seis canadas de azeite para “alampada emcada hum anno”[v] alegando só assim poder celebrar a solene festividade do Santíssimo, o que indicia a antiguidade desta festa. Fernanda Nóbrega @ CAMACHA - camacha (weebly.com)
[i] Arquivo Regional e Biblioteca Pública da Madeira, Colecção de Jornais, Diário de Notícias [ii] Arquivo Regional e Biblioteca Pública da Madeira, Colecção de Jornais, Diário da Madeira [iii] Arquivo Regional e Biblioteca Pública da Madeira, Colecção de Jornais, Diário de Notícias [iv] António Fernandes Correia Jervis de Atouguia. Os seus descendentes venderam uma grande quantidade terrenos no Vale Paraíso e na Nogueira, no decorrer do século dezanove e inícios do século vinte, é de presumir que, já então, fosse essa a sua ligação à Camacha. [v] Torre Do Tombo- Livro Primeiro De Registo De Ordens Expedidas Pelo Real Erário À Junta Da Real Fazenda, p.271
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Abril 2024
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