História, histórias e curiosidades
Realiza-se no próximo dia 8, na paroquia daquela aprazível estancia, a festa da Imaculada Conceição que, …” Numa linguagem um pouco menos arcaica, este poderia perfeitamente ser o parágrafo inicial de um anúncio em qualquer jornal ou rede social, a informar o que, eventualmente, irá decorrer na próxima semana, no referido dia, na Igreja da Camacha, dado que esta festa religiosa com data fixa, há muito que é celebrada com maior ou menor envolvência popular. O restante texto da notícia inserida no Diário de Notícias, em cinco de Dezembro de 1920, traça-nos um esboço de uma vivência diferente da dos dias de hoje: “…este ano reveste um brilhantismo desusado, sendo feita a expensas de 4 proprietários daquela localidade. Na véspera haverá vistosas iluminações a electricidade, para o que já se acha montada a respectiva máquina, e haverá muito fogo de artifício, como o de Viana do Castelo.” A notícia refere ainda os horários de missa com particular relevo para o nome do padre convidado, que iria fazer o sermão, e à banda que competia animar o arraial. Sendo uma festa de final de Outono, talvez por isso, nunca terá alcançado a notoriedade de outros arraiais camacheiros, contudo nas notícias encontradas entre o final do século dezanove e as primeiras décadas de vinte salientam-se, quase sempre, as diferentes bandas filarmónicas a animar o adro e o fogo de artifício, confirmando a existência da parte profana associada à festa religiosa. Apesar de ser um culto antigo, só depois de 1854, com a proclamação do dogma imposta pelo Papa Pio IX, em oito de Dezembro, é que se terá começado a celebrar esta data. Desconhece-se quando exactamente a paróquia da Camacha terá integrado esta celebração no seu calendário anual sendo que a referência mais antiga, encontrada, remonta a 1889. Uma notícia do Diário de Notícias em 1898 dá-nos conta, de forma mais pormenorizada, do decorrer dos festejos. “Teve este anno extraordinário luzimento a festa da Senhora da Conceição na freguezia da Camacha. Tocou no adro, desde o meio dia da véspera, a phylarmonica dos artistas, e à noite a iluminação produziu um bello efeito. A pequena igreja regorgitava de flores naturaes, dispostas com gosto,por entre os paramentos dos altares. Houve dois sermões de manhã à missa, pregou o revdº cura der S. Martinho, padre Correia; de tarde, à festa, foi orador o revdº João Mauricio Henriques, capelão de caçadores nº 12. A musica de côro foi executada pelos srs. Nunos, com a costumada proficiência. A festividade religiosa concluiu por uma procissão magnifica e extremamente sympathica, como costuma ser a de Senhora de Lourdes no Funchal. Uma multidão de creanças, vestidas de azul e branco, muito decentemente trajadas e enluvadas, pegavam às fitas dos pendões e emblemas, trazendo cada uma uma palma de flores artificiais. O andor da Virgem vinha primorosamente ornamentado; após a confraria da Conceição, seguia a do Sagrado Coração de Jesus, com pendão, paramentos, fitas e flores encarnadas e brancas, tudo na melhor ordem. Fechava o préstito religioso o paleo, levando a cruz o respectivo vigário com outros eclesiásticos, a phylarmonica e muita gente com cirios acesos. O dia correu esplendido, banhado de sol, tépido, como se estivessemos em plena primavera. À serenidade atmosférica, correspondia o socego e tranquiliadade publica, como é de praxe nesta localidade”[i] Fernanda Nóbrega @ CAMACHA - camacha (weebly.com) [i] Nesta data Fernando Augusto da Silva, o autor do Elucidário Madeirense, era o padre na Camacha e é muito provável que este texto seja da sua autoria, atendendo à riqueza de vocabulário, distinta das restantes notícias no mesmo jornal.
Arquivo Regional e Biblioteca Pública da Madeira, Colecção de Jornais
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Abril 2024
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