História, histórias e curiosidades
A década de vinte, do século passado, foi na Camacha um período de crescimento e desenvolvimento. Apesar de ser, de certa forma, ignorada pelas opções de investimento dos governantes de então, entre a sua população as mentes mais empreendedoras animaram diversas vertentes que fazem dessa década rica em pequenos passos que impulsionaram a sua modernidade nas diversas áreas: económicas, culturais ou desportivas. Já na década anterior, de quando em quando tinham surgido clubes de futebol (vide Clubs de foot-ball), contudo os anos difíceis da primeira grande guerra terão vindo cortar o ímpeto desportivo. Com o regresso à normalidade, a finalizar o ano de 1921 surgiu o Restauração, o qual se promoveu publicando um anúncio no Diário da Madeira a convidar os clubes madeirenses de então para jogar. Mais informava o anúncio que o clube tinha “três teams”, só aceitava jogos no seu campo da Achada da Camacha e que para se inscreverem os clubes deveriam manifestar essa vontade escrevendo para Aires Ferreira, Sítio da Achadinha, Freguesia da Camacha. Desconhece-se o resultado desta iniciativa, todavia presume-se que o dito clube não terá durado muito pois em 1923 as referências que se encontram são ao Camachense que com a sua camisola preta e amarela, assinalou a sua presença, realizando jogos não só na Achada como também em Machico, onde sofreu uma infeliz derrota por oito a zero perante o Canicense e no Campo Almirante Reis, onde empatou a um golo contra a mesma equipa, em Maio de 1923. Em 1924 já só se encontram referências ao Esperança Foot-ball Club que logo em Janeiro solicitou, à Câmara Municipal de Santa Cruz, num ofício assinado pelo presidente da direcção Frederico Caldeira, licença para realizar melhoramentos no campo das Achada a fim de o tornar mais adequado aos jogos que ali se realizavam, o que denota capacidade de iniciativa e elevado grau de organização. Em 1926, a coexistir com o Esperança surge o Mocidade Foot-ball Club que contava com Manuel Campos como «aza» esquerda, António Gouveia, extremo direito e Jorge, «aza» direita. Para além de jogarem entre si, tanto um como outro realizavam, quer na Camacha quer fora dela, jogos com os diversos clubes madeirenses da época. Uma descrição de um jogo realizado em Março de 1926, em que o Mocidade enfrentou o Barreirense no “Stadium do Club Desportivo Nacional”, Campo dos Barreiros é deveras elucidativa do tipo de futebol que se praticava na altura. “Neste encontro o «Mocidade» foi forçado a abandonar o campo devido a má conduta seguida pelos jogadores adversários. Na primeira parte o jogo correu meio animado ainda que tivessem surgido algumas violências desagradáveis que obrigaram os homens do «Mocidade» a protestarem junto do juiz de campo, declarando que se o «Barreirense» continuasse nas suas deslealdades abandonariam o campo. Pois se a primeira parte não agradou a segunda foi peor, foi mesmo uma lástima. Os trucs aumentaram, o keeper ao tentar uma defesa foi derrubado e depois de se encontrar no solo, caíram-lhe os avançados do «Barreirense» em cima aos pontapés, resultando ficar aquele jogador com algumas contusões no corpo e com a face ensanguentada. O «Mocidade» perante tamanha violencia repetiu os seus protestos ao juiz de campo mas êste não tomou providencias precisas. Devido a isso, ao repetir-se nova avançada do «Barreirense» e quando o guarda-rede do «Mocidade» pretendia defender a bola, é aquêle de novo atirado ao chão aplicando lhe um jogador adversário um pontapé na cabeça. Em face a tudo isto e porque o arbitro nunca quis atender às reclamações do «Mocidade», êste abandonou o campo porque não estava disposto a continuar a jogar com gente que tão cabalmente demonstrou nada perceber de futebol. “[i] Em 1930 a Comissão Administrativa da Câmara Municipal de Santa Cruz proibiu a prática de futebol na Achada, sob pena de multa e procedimento criminal, o que naturalmente abalou a prática desta modalidade na Camacha. Fernanda Nóbrega @ CAMACHA - camacha (weebly.com) [i] Arquivo Regional e Biblioteca Pública da Madeira, Colecção de Jornais, Diário da Madeira
Arquivo Regional e Biblioteca Pública da Madeira, Colecção de Jornais, Diário de Notícias Arquivo Regional e Biblioteca Pública da Madeira, Actas da Câmara Municipal de Santa Cruz
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Abril 2024
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