História, histórias e curiosidades
Não se encontram muitas nem detalhadas descrições, ao longo dos tempos, dos habitantes da Camacha. Encontram-se diversas referências em petições, feitas em diferentes ocasiões e diferentes reinados, mas quase sempre relacionadas à igreja. E porque se tratava, sempre, de pedir apoio financeiro para alguma coisa, a população era descrita como muito pobre, sem mais adiantar sobre os seus modos de vida. Contudo não se encontrou, até hoje, documentos que dêem consistência a essas afirmações e que confirmem a extrema pobreza alegada, maioritariamente, pelos padres nas suas petições. São por isso preciosas as duas descrições que vimos encontrar no início do século dezanove que apesar de algo antagónicas e de certa forma subjectivas, conseguem traçar um interessante retrato do povo da freguesia. Segundo Don Frei Joaquim de Meneses e Ataíde,[i] em 1813 “O povo da Camacha emprega-se em levar cargas de giesta e lenha para a cidade... As mulheres trabalham como os homens e o mais é que as raparigas de 15 e 16 anos vão à serra cortar matto e carregando-o à cabeça levam-no à cidade como os homens... o seu vestuário consiste em uma saia de baeta ou algodão, uma pequena capa até a cintura, uma carapuça na cabeça, como as saloias de Lisboa, mas sem meias nem sapatos.” Conquanto considerasse o povo afável, religioso e trabalhador, esta independência da mulher camacheira não agradava ao Bispo, que lhe atribuía “as desgraças que inundam a Camacha”. Passados quatro anos, Paulo Dias de Almeida, Tenente-Coronel do Real Corpo de Engenheiros no seu livro Descrição da Ilha da Madeira[ii] refere à Camacha como fazendo parte do distrito do Caniço e assim a descreve: “A Freguesia da Camacha é muito bem auborizada: os povos de desta freguezia empregão-se, a maior parte em carretar lenhas e frutas. São os mais elegantes camponios do sul da ilha. Veja-se a estampa 21” Ao longo do século dezanove foram se alterando as ocupações da população camachense, em grande parte também graças às influências que foi recebendo da crescente visita de forasteiros, madeirenses e estrangeiros. Contudo nesse processo evolutivo não se perdeu a vaidade camacheira, aqui reflectida na poesia popular[iii]: As meninas da Camacha Não comem senão abobora P’ra poiparem dinheiro P’ra fazerem fatos da moda. Fernanda Nóbrega @ CAMACHA - camacha (weebly.com) [i] ALMEIDA, Eduardo de Castro e, Archivo de Marinha e Ultramar, inventário: Madeira e Porto Santo, Coimbra 1909. Vol.II, doc.12465, p.333
[ii] Descripção da Ilha da Madeira em geral, e cada huma de suas freguezias, villas, lugares em particular, suas produções, numeros de fogos, e seus habitantes, e estado actual de suas fortificações- Arquivo Regional e Biblioteca Pública da Madeira [iii] Revista lusitana: arquivo de estudos filológicos e etnológicos relativos a Portugal, Volume 17- 1914
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Abril 2024
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