História, histórias e curiosidades
Cantemos todos um hino Que já nasceu em Belém O Nosso Jesus Menino[i] Faz parte da memória de gerações aquele momento entusiasmante em que finda a Missa do Galo começam as desfilar os grupos de Pastores, entrando na igreja entoando louvores ao Menino, trazendo presentes e cultivando uma saudável concorrência entre os diferentes sítios da freguesia, tentando cada um ser eleito na voz do povo, o melhor grupo, o mais afinado e com presentes mais luzentes. Sabemos que é uma tradição antiga, o quão antiga não é fácil estabelecer. Da década de trinta, do século vinte, sobreviveram uma marcha do Ribeiro Serrão e uma outra do Sítio da Igreja, ambas registadas na publicação Retalhos, de Maria Augusta Correia de Nóbrega, em 1994, colocando nessa data a certeza desta prática. Antes disso, até ao momento não se encontram facilmente referências a este costume na Camacha. No Diário da Madeira, no primeiro dia de Janeiro de 1914, pode ler-se que: Com muito brilho e esplendor realisou-se este anno a tradicional festa da noite do Natal: tendo o povo d'esta freguezia, no acto solemne da cerimonia religiosa oferecido valiosos presentes ao revº padre Faria, seu estimado vigario, o que constitue uma manifesta prova das sympathias que em pouco sua revª grangeou n'esta freguezia. Sem fazer, propriamente, alusão ao termo “Pastores”, esta notícia é a referência mais antiga, encontrada até o momento, sobre este costume que ainda hoje é vivido intensamente na localidade. No mesmo jornal, em vinte e dois de Dezembro de 1927, uma pequena notícia dá-nos conta do uso enquanto tradição: ” Realiza-se a festa do Natal á meia noite, havendo sermão pelo verº pároco João Augusto de Faria. O templo apresentar-se-á lindamente ornamentado. Como nos outros anos será queimado bastante fogo á entrada dos «pastores» e em seguida á festa.” Num conjunto de regras relativas à missa da noite de Natal que o Bispo do Funchal fez publicar nos jornais, também em Dezembro do 1927, destaca-se a que diz respeito à “tradicional entrada dos pastores na igreja” que sendo um “costume tão arreigado” continuaria a ser autorizado nas igrejas por toda a ilha. Infelizmente, até ao momento, não se encontraram testemunhos de camacheiros ou de visitantes que descrevam mais em pormenor o decorrer desta prática tão rica em pormenores etnográficos, desde os ensaios de preparação, o lote de presentes, as indumentárias, a romaria. Fernanda Nóbrega @ CAMACHA - camacha (weebly.com)
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Abril 2024
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