História, histórias e curiosidades
No dia 17 de Junho de 1875 o Doutor Manuel José Vieira, inspector das escolas do distrito do Funchal, apresentou, oralmente, à Câmara de Santa Cruz um relatório[i] na sequência das visitas às escolas do concelho que fizera. Sobre a escola da Camacha a acta da sessão camarária refere o seguinte “…observou que a eschola da freguezia da Camacha não estava em boas condições moraes, pois que a aula onde o ensino e dado e exactamente por cima de uma taberna ou mercearia para a qual o professor passava terminado o trabalho escholar, e talvez, em alguma occasião durante esse mesmo serviço; porquanto como o próprio professor informara ajudava seu pae na dita mercearia, que estta proximidade trazia ainda consigo outros inconvenientes, porque uma casa de venda está sempre sujeita, especialmente nos pequenos logares, como o de que se trata, a ruídos desagradáveis que perturbão os exercícios escholares e dão logar a que os alunnos recebão impressões moraes contarias aos bons costumes, impressões que tanto mais facilmente recebem quanto são conhecidas as más condições das pobres construções ruraes que talvez nessa causa de proximidade, se tivessem originado em parte as queixas que ainda não ha muito tiverão logar contra o respectivo professor, das quaes esta Camara tinha conhecimento; que nestas circunstancias sendo o Município de Santa Cruz quem pagava a locação da ditta casa de eschola lembrava elle inspector a necessidade de remediar aquelle inconveniente…”. Com relação aos equipamentos escolares o referido inspector não ficou, também, agradado com o que encontrou: “Na Camacha, veem-se, mais chegadas a um canto, duas mesas largas unidas uma á outra no sentido longitudinal, e um banco sem costas de cada lado, servindo a parede de costas a um dos lados; á cabeceira deles, na mesma altura do soalho um banquinho de pau, de um metro de cumprido, tambem sem costas, onde o professor se assenta. No outtro canto, á direita do professor uma caixa alta de madeira que serve de secretaria. Tudo isto, ainda assim, é do professor, ou do pae deste, e não ha ahi ver nem mais gaveta ou armario ou estante, ou cousa idêntica: as duas mesas, dois bancos e a caixa.” Passados que são quase cento e cinquenta anos deste relatório, poderia ser, de todo, impossível saber onde se localizaria esta escola, uma vez que o mesmo, a isso não faz qualquer alusão, no entanto, graças a um conjunto de pequenos indícios foi possível conhecer a sua localização e até mesmo conjecturar que eventualmente seria a casa assinalada em sépia na foto abaixo[ii]. Sabe-se que a casa onde funcionava a escola pertencia a António Teixeira de Vasconcelos[iii] da Achadinha, sendo o seu filho, Luís Teixeira de Vasconcelos, o atrás referido professor. No livro de notas do notário Francisco Policarpo da Veiga, encontra-se um documento pelo qual António Teixeira de Vasconcelos hipotecou, em 1872, uma casa com telha que servia de venda, na Ribeira da Laranjeira, cujas confrontações eram: a norte António Teixeira de Vasconcelos, a sul o caminho do concelho, a leste a Ribeira da Laranjeira e a oeste António Caldeira Júnior e Januário Luís Ferreira. Em 1905 os filhos de António Teixeira de V venderam-na a João Manuel Teixeira das Neves[iv]. Desconhece-se quando terá sido demolida. Fernanda Nóbrega @ CAMACHA - camacha (weebly.com) [i] Actas da Câmara de Santa Cruz, ABM
[ii] A foto é posterior a 1925, as duas casas em primeiro plano ainda existem e a casa assinalada a sépia já não existe. [iii] Para mais informação sobre este assunto vede Professor Luís Teixeira de Vasconcelos por Danilo Fernandes p.141 [iv] Relacionado com este tema vede Os moinhos da Ribeira da Laranjeira
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Abril 2024
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