História, histórias e curiosidades
Às onze horas e quarenta e cinco minutos do dia nove de Fevereiro de 1936, saíram do Palácio da Junta Geral sete automóveis, numa comitiva composta por entidades públicas e privadas. À elite do poder regional da época juntaram-se três camacheiros: Alfredo Maria Rodrigues, Alfredo Ferreira de Nóbrega e António Álvaro de Jesus. O seu primeiro destino foi S. Gonçalo, onde no sítio do Valparaíso, um pouco abaixo da Montanha, os aguardavam os representantes da Câmara Municipal de Santa Cruz, junto a um arco festivo sobre a entrada para uma estrada que se encontrava vedada à circulação por uma fita verde e vermelha. Após o corte da fita feito pelo Governador Civil, Comandante Goulart de Medeiros e os hinos e foguetes da praxe, a comitiva seguiu pela nova estrada com destino à Camacha, concretizando assim uma velha aspiração dos camacheiros. A segunda paragem desta comitiva aconteceu no ponto de partilha entre a Camacha e o Funchal, onde uma comissão a aguardava para apresentar cumprimentos em nome de todos os camacheiros. Esta comissão era composta por: Frederico Rodrigues, Dr. João Miranda Rodrigues, Aires Victor de Jesus, o regedor António Nóbrega, o professor Carlos Marinho Lopes, Manuel Plácido Freitas, António Gouveia e José Cupertino da Câmara. Não obstante a chuvinha persistente e a nova estrada enlameada devido às chuvas da noite anterior a comitiva chegou à Achada, onde era aguardada por uma multidão liderada pelo padre Daniel de Sousa. Presentes também estavam os alunos das escolas feminina, masculina e Nuno Alvares Pereira que após cantarem o hino ofereceram ao Governador Civil e ao Presidente da Junta Geral um ramo de flores. À aluna da capela Florinda Dias dos Ramos, coube a responsabilidade de ler uma pequena saudação em nome dos 160 alunos da Escola Nuno Alvares Pereira. Terminada esta recepção a comitiva dirigiu-se a pé para o Hotel da Camacha, onde decorreu uma sessão solene no salão de festas, à qual assistiu uma significativa representação da população local. Para além das habituais, nestas circunstâncias, trocas de congratulações os discursos lembraram o longo processo até a concretização da estrada há muito ambicionada. O Presidente da Câmara de Santa Cruz enalteceu o papel da comissão instituída no início de 1925 por: Dr. João Abel de Freitas, Major João Carlos de Vasconcelos, Padre João Augusto de Faria, Ângelo de Vasconcelos Gomes, José de Quintal Júnior, Jorge Soares de Gouveia, Aires Victor de Jesus, Frederico Rodrigues, Manuel Plácido de Freitas, Francisco de Nóbrega, Aires Ferreira e António Ernesto Martins que apresentou à Câmara um pedido para a construção de um primeiro lanço desta estrada, com a extensão de 3500m. Agradeceu também ao engenheiro civil Ernesto Florêncio Cunha que elaborou o projecto e o ofereceu à Câmara e ao Conselheiro Aires de Ornelas que se dispôs a ser a primeira pessoa a cavar no traçado da estrada. João Abel Vieira na qualidade de Presidente da Junta Geral destacou o papel do, já falecido, Padre João Augusto de Faria, de Aires Victor de Jesus e das centenas de homens da Camacha que trabalharam gratuitamente na construção da estrada. Agradeceu ainda a cedência de terrenos, também sem custos, efectuada pelo Visconde do Vale Paraíso, Ernest Blandy, Dr. Ruy da Câmara, Coronel Ferraz, Dr. Teodorico Fernandes e muitos pequenos proprietários. Pelas dezassete horas estava terminada a festa tendo a comitiva regressado ao Funchal. Na Camacha, passados vinte e quatro anos da vinda de um primeiro automóvel e muitos pedidos e reivindicações por uma estrada adequada aos novos meios de transporte, seria com certeza, um dia feliz e de enorme satisfação. Fernanda Nóbrega @ CAMACHA - camacha (weebly.com) Arquivo Regional e Biblioteca Pública da Madeira, Colecção de Jornais, Diário de Notícias, Diário da Madeira
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Abril 2024
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